Não recomendado para cardíacos: thriller policial com Viola Davis e Gerard Butler leva os níveis de tensão ao máximo, na Netflix Divulgação / Overture Films

Não recomendado para cardíacos: thriller policial com Viola Davis e Gerard Butler leva os níveis de tensão ao máximo, na Netflix

“Código de Conduta” quebra convenções usuais dos thrillers ao explorar o enredo de um psicopata que assombra uma cidade já marcada pelo medo e desconfiança. F. Gary Gray, como diretor, foge da escolha previsível de um protagonista carismático e jovem. Em vez disso, temos Jamie Foxx, sempre impecável em seus ternos sob medida, encarregado de manter o público atento durante os 110 minutos de uma trama repleta de oscilações dramáticas.

Gerard Butler, por sua vez, se liberta das restrições do herói convencional e assume o papel de um dos serial killers mais astutos já retratados no cinema. Seu personagem é comparável ao icônico Hannibal Lecter, imortalizado por Anthony Hopkins em “O Silêncio dos Inocentes” (1991), de Jonathan Demme, ou ao impiedoso assassino interpretado por Michael Fassbender em “O Assassino” (2013), dirigido por David Fincher. Gray aposta fortemente na química entre seus dois protagonistas, e o roteirista Kurt Wimmer cria cenas eletrizantes, onde ambos duelam em uma batalha de egos que, embora longa, jamais se torna cansativa.

Nicholas Rice, interpretado por Foxx, surge como um promotor público talentoso e ambicioso, dedicado a limpar as ruas da Filadélfia de traficantes, proxenetas e mafiosos. Contudo, o enigmático Clyde Shelton, papel de Butler, não se encaixa em nenhuma dessas categorias. No prólogo, vemos Shelton como um homem comum, retornando do trabalho para sua casa, onde é recebido por sua esposa e filha, interpretadas por Brooke Stacy Mills e Ksenia Hulayev. Esse cenário doméstico tranquilo é brutalmente interrompido quando um invasor mata sua família de forma cruel e sem cerimônia.

Dez anos após essa tragédia, Rice é um dos homens mais poderosos da Pensilvânia, mantendo-se incorruptível enquanto lida com as pressões de sua carreira e os desafios de sua vida pessoal, ao lado de sua esposa Kelly (Regina Hall) e sua filha Denise (Emerald-Angel Young). Já Shelton, depois de uma década na prisão, perdeu qualquer traço de humanidade. Sua única motivação para continuar vivendo é o plano de vingança que arquitetou. No entanto, a grande questão que Gray habilmente deixa sem resposta é se Shelton agiu sozinho ou com a cumplicidade de alguém dentro da polícia ou do sistema judiciário.

É nessa ambiguidade que o diretor imprime um toque pessoal ao filme. A cena em que Butler, disfarçado de policial, captura Jonas Cantrell, o responsável por sua desgraça, e o submete a uma sessão de tortura brutal — com destaque para o macabro decepamento das pálpebras e órgãos genitais — é um dos momentos mais impactantes da trama, sem parecer gratuito ou forçado.

À medida que o vilão secundário, interpretado por Bruce McGill, desaparece da narrativa, Colm Meaney, no papel do detetive Dunnigan, ganha mais espaço. O olhar atento do público logo começa a desconfiar desse personagem, levantando suspeitas que podem ser um reflexo da chamada “Lei da Economia de Personagens”. Ainda assim, não deixa de ser frustrante o desperdício de Viola Davis, cuja atuação como a prefeita April Henry é insossa, transformando-a em uma pálida metáfora da ineficácia dos governantes diante de predadores sociais.

A direção de Gray reforça o clima de tensão e incerteza, mantendo o público em constante estado de alerta. O jogo psicológico entre Rice e Shelton, impulsionado pela busca incessante de justiça (ou vingança) de ambos os lados, confere à narrativa uma profundidade moral que vai além dos thrillers tradicionais.


Filme: Código de Conduta
Direção: F. Gary Gray
Ano: 2009
Gêneros: Thriller/Ação
Nota: 8/10