Vencedor de 45 prêmios, incluindo o Oscar, drama fenomenal com Brad Pitt está na Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Vencedor de 45 prêmios, incluindo o Oscar, drama fenomenal com Brad Pitt está na Netflix

O filme “Babel”, dirigido por Alejandro González Iñárritu, constrói uma narrativa poderosa ao explorar as complexas interconexões entre diferentes histórias, muitas vezes distantes, que revelam as consequências imprevistas de ações aparentemente isoladas. O chamado “efeito borboleta”, que propõe uma ligação entre causas e consequências de maneira quase invisível, encontra terreno fértil nesta produção, onde o destino, a coincidência e a má sorte se entrelaçam, levando personagens comuns e excepcionais a situações extremas.

A trama retrata a fragilidade das relações humanas e a crescente dificuldade de comunicação entre culturas e indivíduos, um tema simbolizado pela referência à lenda bíblica da Torre de Babel. No épico contemporâneo de Iñárritu, assim como na história bíblica, a tentativa de alcançar o divino resulta apenas em caos e confusão entre os homens.

Essa atmosfera de desordem permeia os 143 minutos de “Babel”, em que o diretor e seu corroteirista, Guillermo Arriaga, seguem a tradição estabelecida em seus filmes anteriores, “Amores Brutos” (2000) e “21 Gramas” (2003). A narrativa flui com uma intensidade ininterrupta, guiando o espectador por uma sequência de tragédias que se abatem sobre pessoas que nunca se encontram, mas cujas vidas são inevitavelmente interligadas.

Um empresário japonês, por exemplo, viaja ao Marrocos e, após uma caçada, presenteia seu guia com um rifle. Esse gesto aparentemente inofensivo desencadeia uma série de eventos desastrosos, quando a arma é vendida a um homem que deseja proteger suas ovelhas dos chacais. Eventualmente, o rifle acaba nas mãos de Yussef, um garoto que, em uma competição de tiro com seu irmão, acidentalmente atinge um ônibus de turistas, ferindo gravemente Susan Jones, interpretada por Cate Blanchett.

A partir desse incidente, as diferentes histórias começam a se desenrolar. Susan e seu marido Richard, vivido por Brad Pitt, lutam desesperadamente para encontrar atendimento médico em um vilarejo remoto, enquanto enfrentam a paranoia de estarem cercados por um ambiente hostil.

Ao mesmo tempo, no México, a babá de seus filhos, Amélia, vivida por Adriana Barraza, enfrenta seu próprio dilema. Incapaz de encontrar alguém para cuidar das crianças enquanto ela comparece ao casamento de seu filho, ela decide levá-los consigo para o outro lado da fronteira, uma decisão que acaba por colocar todos em perigo.

“Babel” oferece uma crítica incisiva à falta de comunicação e ao impacto que decisões aparentemente triviais podem ter em escala global. A metáfora da incomunicabilidade atinge seu auge na trama que envolve Chieko, a filha surda-muda do empresário japonês, interpretada por Rinko Kikuchi.

Sua dificuldade em se conectar com o mundo ao seu redor serve como um reflexo das barreiras que todos os personagens enfrentam, cada um em sua própria forma de isolamento. A atuação de Kikuchi, junto com a de Kōji Yakusho, que interpreta seu pai, cria uma camada adicional de profundidade à narrativa, reforçando o tema central de que a comunicação — ou a falta dela — é a chave para entender as tragédias humanas.

O filme não oferece respostas fáceis ou soluções simplistas. Ao contrário, “Babel” mergulha o espectador em um estado constante de tensão e desconforto, onde o sofrimento e a confusão predominam. O trabalho visual é impecável, com uma fotografia que captura a aridez do deserto marroquino, a luminosidade quente do México e a fria urbanidade de Tóquio, criando um contraste visual que espelha a diversidade das histórias que estão sendo contadas.

Cada ambiente contribui para intensificar o estado emocional dos personagens, enquanto a trilha sonora, composta por Gustavo Santaolalla, acrescenta uma camada melódica de melancolia e beleza.

Com “Babel”, Iñárritu reafirma sua capacidade de criar narrativas profundas e interligadas, onde as ações individuais, por mais distantes que pareçam, afetam o destino de outros de maneiras irreversíveis. É um filme que desafia o público a refletir sobre o impacto de suas próprias escolhas e sobre a importância de romper as barreiras que nos separam, sejam elas linguísticas, culturais ou emocionais.

Filme: Babel
Direção: Alejandro G. Iñárritu
Ano: 2006
Gêneros: Thriller/Drama
Nota: 9/10