Durante 5 semanas no Top 10 mundial, comédia romântica foi assistida por 15 milhões nos primeiros 7 dias na Netflix Divulgação / Netflix

Durante 5 semanas no Top 10 mundial, comédia romântica foi assistida por 15 milhões nos primeiros 7 dias na Netflix

A encantadora ilha de Chipre, localizada no extremo leste do Mar Mediterrâneo, é um território fascinante, cercado por nações como Turquia, Síria, Líbano, Israel, Egito e Grécia. Apesar de sua proximidade com o Oriente Médio, Chipre integra a Europa e é membro da União Europeia, reforçando sua rica herança multicultural. É desse cenário que emerge a cineasta Stelana Kliris, que, com seu segundo longa-metragem, “Mergulhando no Amor”, disponível na Netflix, surpreende ao oferecer uma história introspectiva e profunda. O título pode sugerir uma típica comédia romântica, mas a trama revela-se muito mais sombria e meditativa, desafiando as expectativas convencionais.

Chipre, com suas paisagens deslumbrantes, torna-se o pano de fundo ideal para a narrativa, que apresenta Harry Connick Jr. como John Allman, um astro do rock que, aos cinquenta anos, decide se isolar em uma remota propriedade mediterrânea. Sem avisar seu agente ou amigos, ele se refugia na casa onde viveu momentos marcantes de sua vida, buscando uma reconexão com o passado e, especialmente, com Sia (Agni Scott), a mulher que o inspirou a compor suas canções mais célebres. O que parecia ser um refúgio para lidar com seu coração partido transforma-se numa jornada cheia de nuances emocionais.

Logo na cena de abertura, John presencia um suicídio, incapaz de impedir o salto de um homem de um penhasco. Esse evento chocante o conduz a uma descoberta perturbadora: o local onde escolheu se isolar é um ponto conhecido por ser cenário de tragédias semelhantes. O isolamento de John é interrompido pela sombra de uma série de mortes, que marcam o lugar com uma reputação sombria de destino final para os desesperançados.

A motivação de John ao descobrir a maldição local não é altruísta. Ele não busca honrar ou lembrar aqueles que se foram, mas sim proteger sua paz, construindo uma cerca para barrar o acesso ao precipício. Sua indiferença em relação às vidas perdidas destaca uma desconexão emocional, refletindo sua própria luta interna em lidar com a perda de Sia.

No decorrer da trama, John não apenas revisita memórias de seu relacionamento passado, mas também se depara com uma jovem talentosa, uma musicista local que, apesar de seu talento inquestionável, permanece presa à simplicidade do vilarejo onde vive. Essa personagem, que trabalha como entregadora no mercado da região, é o contraponto perfeito para a jornada de John, lembrando-lhe da juventude e das oportunidades que a vida, às vezes, oferece e retira de forma implacável.

A trama desenvolve um envolvente triângulo amoroso que, embora por vezes previsível, é enriquecido pelas tradições conservadoras de Chipre e pelos dilemas pessoais dos personagens. O roteiro equilibra cenas de profundo melodrama com momentos leves e comoventes, apresentando a beleza natural da ilha e a cultura de seus habitantes. Essa mistura cria um cenário envolvente, permitindo que o espectador mergulhe na dualidade de uma narrativa que, ao mesmo tempo que evoca o romance, reflete sobre a solidão, o luto e a inevitabilidade do tempo.

A obra de Stelana Kliris se diferencia das comédias românticas tradicionais ao propor uma reflexão mais profunda sobre as marcas que a vida deixa e as escolhas que moldam nossa trajetória. Ao contrário do que se espera de um filme que inicialmente promete leveza, “Mergulhando no Amor” é, na verdade, um convite à introspecção, tocando em temas delicados como a solidão e o desejo de reconquistar aquilo que foi perdido.


Filme: Mergulhando no Amor
Direção: Stelana Kliris
Ano: 2024
Gênero: Comédia/Romance/Drama
Nota: 8