Comédia romântica com Justin Timberlake que atraiu 20 milhões de fãs aos cinemas está na Netflix e vai melhorar 100% sua tarde David Giesbrecht / Sony Pictures

Comédia romântica com Justin Timberlake que atraiu 20 milhões de fãs aos cinemas está na Netflix e vai melhorar 100% sua tarde

Em meio às exigências cotidianas, onde o corpo sucumbe ao cansaço sobre lençóis que parecem vastidões vazias, as noites frias oferecem um breve alívio. No entanto, é inevitável o momento em que a solidão, em vez de se apresentar de forma discreta, se impõe de maneira avassaladora. Suas investidas são calculadas, certeiras, e difíceis de ignorar.

“Amizade Colorida” surge como mais uma comédia romântica típica de Hollywood, que foca em personagens cujo sucesso e sofisticação não conseguem apaziguar uma necessidade inerente e profundamente humana: a busca por algo que transcenda o material e toque o emocional. É essa necessidade que, por vezes, se converte em uma esperança, um sentimento inquietante, capaz de dar sentido às incertezas da vida.

Will Gluck, o diretor, segue o caminho que já havia começado a explorar em “Pelas Garotas e Pela Glória” (2009), mas agora aprofunda os conflitos. Ele oferece uma visão detalhada de uma relação entre dois adultos que, aparentemente, dominam todos os aspectos de suas vidas, até que o inesperado acontece: emoções começam a emergir de maneira incontrolável, revelando facetas desconhecidas de cada um.

Jamie, uma eficiente executiva de Nova York, conduz sua vida com a mesma destreza que aplica em sua carreira. O encontro com Dylan, um diretor de arte em ascensão, é inicialmente movido por interesses profissionais. Ele se destaca em um site que oferece opiniões sobre moda, algo que Jamie enxerga como uma oportunidade para revitalizar a revista com a qual trabalha, buscando soluções para aumentar seus lucros.

O roteiro, desenvolvido por Gluck e sua equipe, aproveita ao máximo as nuances da relação entre Jamie e Dylan. Mila Kunis, que interpreta Jamie, traz à personagem uma atitude assertiva e pragmática, geralmente associada a papéis masculinos. Já Justin Timberlake, como Dylan, equilibra essa intensidade com um charme descontraído, sem pressa para se deixar envolver pela situação.

A química entre os dois é palpável, e, à medida que a trama avança, fica claro que ambos estão comprometidos em dar vida a personagens complexos e únicos. A relação entre eles evolui de forma natural, com diálogos afiados que os atores interpretam com fluidez e precisão.

O papel de Jamie não é apenas de uma mulher determinada em sua carreira, mas também de alguém que esconde, por trás de sua autossuficiência, uma vulnerabilidade inesperada. Gluck, ao subverter expectativas, transforma Mila Kunis em uma protagonista cuja frieza e controle rivalizam com os arquétipos tradicionalmente masculinos.

Dylan, por outro lado, resiste inicialmente ao jogo, não se deixando envolver de imediato, como se soubesse que tal envolvimento traria consequências emocionais inescapáveis. Enquanto os dois se aproximam, jantares casuais se transformam em algo mais profundo, até culminar em um relacionamento íntimo, que desafia a noção de que ambos são invulneráveis ao amor e suas complexidades.

O elenco de apoio complementa a trama de maneira eficaz, adicionando camadas de profundidade à narrativa. Richard Jenkins dá vida ao senhor Harper, o pai de Dylan, cuja presença traz uma dimensão emocional ao filme, enquanto Patricia Clarkson, no papel de Lorna, a mãe de Jamie, oferece momentos de leveza e humor. Contudo, é Woody Harrelson, como Tommy, o editor esportivo irreverente e confidente de Dylan, que se destaca como a voz da razão e do humor, equilibrando a seriedade e o drama com sua personalidade carismática.

O filme, embora trate de temas amplamente explorados, como o amor e as complicações das relações humanas, consegue se manter atual e envolvente, principalmente pelo frescor que o elenco e a direção imprimem às situações.

Gluck evita cair nas armadilhas das convenções previsíveis, criando uma obra que, embora familiar, se distingue pelas interpretações e pelos detalhes cuidadosos no desenvolvimento dos personagens. A previsibilidade do gênero é minimizada pelo trabalho dos atores, que imprimem autenticidade às suas performances.

“Amizade Colorida” não é apenas mais uma comédia romântica genérica; é uma análise dos dilemas emocionais contemporâneos, onde o sucesso profissional e a aparência de independência são apenas uma fachada para desejos e necessidades mais profundos.


Filme: Amizade Colorida
Direção: Will Gluck
Ano: 2011
Gêneros: Romance/Comédia
Nota: 8/10