O romance mais assistido de 2024 na Netflix Michael Oats / Netflix

O romance mais assistido de 2024 na Netflix

Relações que atravessam anos ou se desfazem logo após uma noite, após instantes de paixão, podem iniciar-se com gestos e olhares sem pretensão de durar mais do que o momento. Esses envolvimentos, muitas vezes, são motivados pelo desejo de viver um instante com alguém que parece merecer os sonhos guardados para uma vida inteira — ou ao menos para um breve passeio à beira-mar, uma volta de roda-gigante, ou um drink para encerrar uma semana repleta de desafios.

Na conclusão da trilogia com “Através da Minha Janela: Olhos nos Olhos”, Marçal Forés encerra a jornada de dois jovens que, por acaso, se conhecem após uma falha de conexão. Esta série, assumidamente voltada para o público jovem-adulto, entrega algumas leves pitadas de drama em situações que, nas obras anteriores, pouco se desenvolviam. Embora o roteiro de Eduard Sola e Ariana Godoy tenha boas intenções, fica evidente que o filme é uma tentativa forçada de estender uma narrativa que funcionaria melhor em um único volume, assim como nos livros que inspiraram a produção.

À medida que nos deparamos com nossas fraquezas mais profundas, as limitações humanas tornam-se evidentes — vulnerabilidades que se manifestam tanto no corpo quanto na alma. As dificuldades e tragédias da vida, sejam elas emocionais ou sociais, contribuem para uma jornada cheia de contratempos, mas também de momentos que revelam o quanto a existência é, apesar de tudo, um presente precioso. Cada pessoa define seu próprio ritmo para entender que a vida, em meio aos desafios, oferece oportunidades valiosas, vindas de forças ocultas ou evidentes, como o destino ou a sorte.

Vinicius de Moraes, mestre em explorar os altos e baixos dos romances, escreveu em seu “Soneto de Fidelidade” que o amor, mesmo efêmero, pode ser infinito enquanto dura. Embora essa ideia pareça óbvia, o amor, na visão de Fernando Pessoa, também tem um lado ridículo e paradoxal, algo que ambos poetas souberam expressar tão bem em suas obras sobre a paixão humana. Forés, no entanto, tenta seguir essa linha, como em produções como “A Barraca do Beijo”, mas falha ao apresentar um relacionamento que, após tanto tempo, ainda se sustenta em mal-entendidos e imaturidades.

O diretor volta a um momento crucial, abordado com mais profundidade no filme anterior “Através da Minha Janela: Além-Mar”, sugerindo uma possível separação entre os protagonistas. Porém, a trama insiste em prolongar o inevitável. Durante um inverno em Barcelona, Raquel e Ares, ambos com novos parceiros, acabam se reencontrando por acaso e cedem à nostalgia de um passado que ainda pesa sobre eles, como se fossem os únicos viajantes numa jornada já desgastada pelo tempo.

Clara Galle e Julio Peña seguem o tom esperado, mas o roteiro pouco lhes oferece para brilhar, exceto pela lembrança do personagem Yoshi, interpretado por Guillermo Lasheras, que faleceu no filme anterior. Mesmo com esperanças de que os demais personagens pudessem ter um desenvolvimento mais profundo, tudo se perde em diálogos vazios, com o casal central dominando a trama, prendendo apenas quem insiste em continuar até o final.


Filme: Através da Minha Janela: Olhos nos Olhos
Direção: Marçal Forés
Ano: 2024
Gêneros: Romance/Drama/Comédia
Nota: 7/10