A melhor comédia romântica da Netflix é um remédio para a alma e vai tocar seu coração Sarah Shatz / Netflix

A melhor comédia romântica da Netflix é um remédio para a alma e vai tocar seu coração

A reflexão de Zygmunt Bauman sobre a liquefação das relações humanas e da própria identidade ganha um toque inesperadamente leve nas mãos de Jennifer Kaytin Robinson. Em vez de uma abordagem densa ou teórica, a diretora opta por transformar essa complexa visão filosófica em uma comédia romântica envolvente, centrada na vida de três amigas jovens e bem-sucedidas. Elas estão em um momento de ascensão profissional, colhendo os frutos de lutas intensas e desafiadoras. Apesar disso, a leveza e a descontração permeiam suas escolhas, enquanto enfrentam os reveses e incertezas da vida adulta. A narrativa, ainda que previsível em sua essência, conquista o público com a combinação de diálogos espirituosos, situações cotidianas e um retrato autêntico das amizades femininas contemporâneas, que, embora marcadas por altos e baixos, mantêm-se resilientes.

O sucesso anterior de Robinson com “Sweet/Vicious” (2016), uma série transmitida pela MTV, parece ter alimentado sua coragem de explorar temas tradicionais, mas com um toque inovador. Ao longo do filme, ela desconstrói os clichês tão comuns às comédias românticas e os reapresenta de maneira surpreendente. Jenny, uma personagem interpretada por Gina Rodríguez, é uma aspirante a crítica musical que se vê à beira de uma grande mudança em sua vida quando recebe uma oferta de emprego em São Francisco. Essa nova oportunidade a obriga a reavaliar seu relacionamento com Nate, vivido por LaKeith Stanfield. O enredo se intensifica à medida que Jenny, junto com suas amigas Blair e Erin, aproveita os últimos momentos antes da grande decisão que poderá alterar para sempre seu caminho. A intensidade emocional é mesclada com humor e leveza, equilibrando o peso das escolhas com o descompromisso típico da juventude.

A diretora também utiliza recursos técnicos com sensibilidade, como a trilha sonora de Germaine Franco, que evoca memórias com músicas icônicas como “Moon River” de Henry Mancini, na voz inesquecível de Audrey Hepburn. Os flashbacks entre Jenny e Nate transportam o público para uma época mais ingênua, quando o casal, ainda sem o peso das responsabilidades adultas, era visivelmente mais feliz. À medida que o filme avança, a narrativa parece perguntar se a solidão e a tristeza são inevitáveis ao amadurecimento. Nesse sentido, o filme sugere que crescer envolve aceitar essas realidades e encontrar maneiras de lidar com elas. Com isso, a comédia romântica assume um tom mais reflexivo e menos escapista, sem abandonar o entretenimento leve que é esperado do gênero.


Filme: Alguém Especial 
Direção: Jennifer Kaytin Robinson
Ano: 2019
Gêneros: Romance/Comédia
Nota: 8/10