O primeiro filme do Universo Estendido da DC Comics a ultrapassar a marca de R$ 2,5 bilhões desde 2018, está no Max Divulgação / Warner Bros.

O primeiro filme do Universo Estendido da DC Comics a ultrapassar a marca de R$ 2,5 bilhões desde 2018, está no Max

Jason Momoa é o próprio Aquaman, e este é um dos segredos da franquia que James Wan conseguiu fazer algo muito maior do que de fato é. O resultado, patente em cada cena de “Aquaman 2: O Reino Perdido”, é verdadeiramente orgânico, fluido, e Wan parece não sentir a menor necessidade de convencer o público quanto ao que quer que seja e nunca falta aquilo que todo mundo busca numa história desse jaez, ação, que se desdobra em comédia involuntária e sonho, terminando por abastecer de sentimento os corações mais rigorosos. “O Reino Perdido” lembra desenho animado para gente grande — e nem tanto —, nas sequências em que Arthur Curry, o híbrido de peixe e homem, monta cavalos-marinhos que relincham e soca tubarões que rugem como leões, sacadas quase geniais na originalidade do roteiro de Wan, David Leslie Johnson-McGoldrick e do próprio Momoa.

Super-heróis de correntes as mais variadas, dos mais solares ao mais chegados ao mundo das trevas, têm um ponto em comum: lutam contra as memórias de uma infância triste, que, claro, ficam naquele eterno vaivém que os predispõem a se lançar a empreitadas cada vez mais arriscadas, quiçá até suicidas, visando não somente o bem da humanidade, mas um acerto de contas com sua própria vida. Toda a história do cinema — e, por extensão, da própria cultura pop — seria justo o contrário do que se tem hoje se super-heróis fossem dotados de um salvo-conduto para cometer barbaridades em nome da lei e da ordem. Qualquer um que já tenha sido criança sabe perfeitamente que esses indivíduos, meio humanos, meio fantásticos, emulando os atributos de morcegos, aranhas, felinos ou peixes, gastam um bom pedaço de suas vidas nem tão extraordinárias tentando fugir de traumas que nem eles mesmos entendem, e, dessa forma, enredos como o de “Aquaman 2: O Reino Perdido” passam a fazer todo o sentido. 

Arthur é agora um pai de família — ainda que continue a ostentar uma cabeleira de surfista e enxugue mais garrafas que o recomendado —, lutando aguerridamente contra seus fantasmas, boa parte deles representados pelo meio-irmão Orm Marius, o Mestre do Oceano, deposto de Atlântida, sem que se esqueça de Black Manta, também conhecido como David Kane. A química entre Patrick Wilson e Yahya Abdul-Mateen II, nessa ordem, confere um pouco mais de identidade a um amálgama pasteurizado de Júlio Verne (1828-1905), H.P. Lovecraft (1890-1937) e H.G. Wells (1866-1946), animado pelo stop motion de Ray Harryhausen (1920-2013). O encantamento aqui é garantido.


Filme: Aquaman 2: O Reino Perdido
Direção: James Wan
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Fantasia
Nota: 8/10