A história de um jovem que, após uma brincadeira aparentemente inofensiva, se vê amaldiçoado por uma colega apaixonada, poderia facilmente descambar para o imprevisível. Esse é o ponto de partida de “Maldita Sorte”, um filme que flerta com o bizarro, equilibrando-se entre o humor ácido e momentos quase envolventes. A obra explora sem rodeios as piores inclinações humanas, oferecendo ao espectador um passeio entre o desconforto e o entretenimento.
Conforme o filme avança, a expectativa por uma reviravolta no enredo de Steve Glenn e Josh Stolberg cresce, embora o roteiro não entregue o impacto que se espera. No entanto, o diretor Mark Helfrich consegue salvar a trama da mediocridade absoluta ao inserir cenas que dão um tom de romance excêntrico, evitando uma catástrofe narrativa completa.
Os protagonistas Jessica Alba e Dane Cook, ancorados por um roteiro que flerta com o caos, tentam equilibrar performances que oscilam entre o choque e uma sensibilidade que nunca se sobrepõe à irreverência.
O filme acaba por refletir, em seu subtexto, sobre a inevitabilidade do tempo e a solidão que eventualmente assola a todos. À medida que envelhecemos, lidar com os próprios demônios torna-se uma batalha constante, e as dificuldades em compreender o próximo aumentam à medida que nossas próprias angústias se intensificam.
A trama sugere que escolhas erradas podem nos assombrar de formas imprevisíveis, e que corrigir tais erros pode ser impossível, deixando uma sensação de impotência diante do passar dos anos.
No entanto, “Maldita Sorte” não se concentra apenas nesse aspecto filosófico. A história de Chuck, um dentista bem-sucedido na costa oeste dos Estados Unidos, é marcada pela maldição que carrega desde a infância, quando participou de um jogo de “verdade ou desafio” com consequências inesperadas.
Durante anos, Charlie, o protagonista, permanece alheio ao interesse das mulheres, mas isso muda subitamente quando ele se torna alvo de um desejo quase incontrolável. Agora, o desafio de Chuck não é apenas lidar com sua própria maldição, mas também conquistar o coração de Cam Wexler, interpretada por Alba, uma tratadora de pinguins que parece ser a única mulher com quem ele verdadeiramente quer estar, mas que, ironicamente, está fora de seu alcance devido à maldição que o aflige.
Grande parte do filme gira em torno da amizade entre Charlie e Stuart, um cirurgião plástico vivido por Dan Fogler. A química entre Cook e Fogler traz alguns dos momentos mais divertidos da narrativa, que, no entanto, perde fôlego ao se aproximar do desfecho. Quando finalmente Cam entra na vida de Charlie, o filme tenta amarrar suas pontas soltas, mas o resultado é uma comédia romântica previsível.
Charlie consegue quebrar sua maldição, mas até chegar a esse ponto, uma série de situações embaraçosas e acidentes cômicos preenchem o enredo, com uma sequência de mulheres passando por sua cama, enquanto o público, que inicialmente ri dessas situações, logo perde o interesse.
O humor, que inicialmente parece ser o ponto forte do filme, se dilui com o passar dos minutos, deixando uma sensação de superficialidade. Apesar disso, “Maldita Sorte” é um filme que tenta, com variações de tom, manter o espectador entretido, ainda que seu impacto seja efêmero.
Filme: Maldita Sorte
Direção: Mark Helfrich
Ano: 2007
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 7/10