A primeira minissérie da Netflix a ultrapassar a marca de 300 dias no Top 10 mundial Divulgação / Netflix

A primeira minissérie da Netflix a ultrapassar a marca de 300 dias no Top 10 mundial

O que atrai o público para assistir “Inventando Anna” é a mesma curiosidade que levou a jornalista Vivian Kent, do “Times”, a buscar entender mais sobre a enigmática figura de Anna. O caso é relativamente recente, sendo que apenas seis anos se passaram desde que a jovem foi exposta e seu julgamento ocorreu em 2019, apenas três anos atrás. Anna nasceu na Rússia, em 1991, em um ambiente simples. Filha de um caminhoneiro e de uma dona de casa, ela cresceu com um irmão em uma família que, em 2007, se mudou para a Alemanha. Antes de se estabelecer em Nova York, Anna também passou por Londres e Paris, e foi na cidade americana que sua história começou a tomar proporções surpreendentes.

É impressionante observar como uma jovem estrangeira conseguiu se inserir tão rapidamente na exclusiva elite de Nova York, um círculo fechado e altamente seletivo. Foi justamente essa característica que chamou a atenção de Kent ao convencer seus superiores de que valia a pena investigar o caso. Anna Delvey, como ficou conhecida, inventava uma série de narrativas, sempre se apresentando como uma herdeira bilionária. Em suas mentiras, seu pai era um diplomata, um grande empresário do setor de energia solar, ou até mesmo um magnata do petróleo. Com essa aura de riqueza e sofisticação, ela rapidamente passou a circular por hotéis de luxo, spas caros, salões de beleza renomados e os restaurantes mais badalados da cidade. Sua habilidade de manipulação era tamanha que conseguia convencer seus novos amigos ricos a pagar por suas extravagantes despesas, sempre justificando que seu dinheiro estava momentaneamente bloqueado em contas bancárias internacionais.

Contudo, como é comum nos casos de fraude, a verdade eventualmente veio à tona. O grande sinal de alerta foi o montante impressionante de US$ 275 mil acumulados em prejuízos, o que resultou na prisão de Anna. Muito disso ainda era desconhecido quando Kent decidiu aprofundar-se na história e começou a acompanhar de perto os desdobramentos. Quando o julgamento foi anunciado, o mistério em torno de Anna aumentou, despertando ainda mais o interesse da jornalista, que então buscou contato com o advogado de Delvey. Após várias tentativas infrutíferas, Anna finalmente aceitou uma entrevista, e a verdade começou a ser desvendada.

No entanto, um dos grandes problemas da série é a falta de profundidade dramática, um aspecto que os fãs normalmente esperam das produções de Shonda Rhimes. Ao invés de trazer a tensão e densidade características de suas obras mais famosas, o que vemos em “Inventando Anna” muitas vezes se assemelha mais a uma série juvenil, como “Gossip Girl” ou “Elite”. Apesar das excelentes atuações das protagonistas, a trama acaba perdendo intensidade. É possível que Shonda tenha buscado dar um ar mais moderno e jovem à produção, mas isso acabou reduzindo parte do suspense que a história de Anna poderia trazer. Além disso, a série tenta ilustrar o desejo insaciável por consumo e status, típico de uma era dominada por influenciadores digitais e pelo estilo de vida inalcançável promovido nas redes sociais, algo que ressoa especialmente entre os Millennials. Em última análise, a narrativa de Anna Delvey oferece uma reflexão provocante sobre até onde estamos dispostos a ir para conquistar uma vida que parece perfeita aos olhos do público.


Filme: Inventando Anna
Direção: Shonda Rhimes
Ano: 2022
Gêneros: Documentário/Drama
Nota: 8/10