Mulheres à beira de um ataque de nervos. Não, “O Clube das Mães Solteiras” não é nenhum remake do clássico de 1988 dirigido por Pedro Almodóvar, mas bem que poderia ser, caso fosse menos óbvio — o que não quer dizer que não haja lances quase excelsos em mais essa comédia de costumes de Tyler Perry, um artista assumidamente engajado que especializou-se em abordar todos os assuntos de que os diretores brancos de Hollywood tratam, com a grande sacada de escalar atores negros para protagonistas. Talvez este seja o filme em que se perceba com maior nitidez um equilíbrio racial no elenco, o que o torna mais orgânico. Lamentavelmente, esse esforço perde-se em grande medida diante de se reduzir tudo a uma questão de mães cujos relacionamentos foram para o vinagre e agora se flagram às voltas com filhos rebeldes, carreiras que não decolam, novas aspirações românticas encruadas, tudo por culpa dos homens, ou melhor, um homem, em cada situação bastante sui generis.
O diretor-roteirista começa “O Clube das Mães Solteiras” colocando uma das personagens numa sala com advogados e o ex-marido, que pretende reduzir ao máximo o valor da pensão. Hillary, sem dúvida a mais vulnerável das quatro mulheres, parece choramingar pelos cantos, e não dá sinais de muita preocupação ao saber que a filha, Jennifer, fora pega com outros quatro alunos pichando as paredes da escola. Essas crianças, claro, são os filhos de May, uma jornalista que tenta publicar um romance; Jan, uma agente literária que renunciou à maternidade consumada pela carreira e agora está a ponto de perder as duas coisas; Esperanza, uma dondoca que morre de medo de que o ex-marido sociopata descubra que ela apaixonou-se outra vez; e Lytia, uma garçonete que luta para escapar da sina de vulnerabilidade social e, mais ainda, para manter Hakim, o terceiro de cinco filhos, longe das drogas e da cadeia, destino do pai dos dois irmãos mais velhos. Os garotos deveriam ser expulsos (deveriam mesmo), ou suspensos, mas quem paga a fatura são as mães, obrigadas a trabalhar juntas na organização do baile de fim de ano do colégio, arrecadando fundos para uma instituição filantrópica a ser ajudada durante o evento.
Por paradoxal que soe, o enredo dá importância exagerada às figuras masculinas de cada uma das moças, e elas fazem o que podem para segurar o interesse do espectador. Wendi McLendon-Covey reveste sua Jan de uma aura um tanto repulsiva, sempre armada e quase racista e gordofóbica nos comentários que dirige a Lytia, e Cocoa Brown, por seu turno, enternece como o tipo matrona, cheia de colo e abraços para todos por trás de uma carapuça de necessidades e boletos acumulados — exceto para Branson, o personal trainer boa-praça, mas inconveniente vivido por Terry Crews, que persegue em flertar com ela e não aceita um não (ele acaba recompensado pela insistência). São boas atuações, mas aqui a estrela mesmo é Nia Long; na pele de May, ela cresce e aparece no terceiro ato, quando tem de descascar sozinha um abacaxi duríssimo. Quanto às outras duas, Perry não consegue explicar ao certo o que elas fazem ali, o que diminui um tanto a força do título.
Filme: O Clube das Mães Solteiras
Direção: Tyler Perry
Ano: 2014
Gêneros: Comédia/Drama
Nota: 8/10