O filme documental que fez a Netflix ser processada em 100 milhões de dólares Divulgação / Netflix

O filme documental que fez a Netflix ser processada em 100 milhões de dólares

O documentário “O Homem Com Mil Filhos”, dirigido por Josh Allott, mergulha em uma história que desafia a lógica e expõe um emaranhado de problemas de enorme gravidade. A trama gira em torno de Jonathan Meijer, um homem cuja conduta levanta questões não apenas sobre sua própria moralidade, mas também sobre as falhas de um sistema que, de certa forma, permitiu que suas ações chegassem a tal magnitude. Com uma narrativa impactante, Allott não economiza detalhes ao expor como Meijer utilizou brechas legais para afetar a vida de mais de mil pessoas — um número impressionante que lança luz sobre o tamanho do estrago causado por suas atitudes.

Meijer, um holandês de 43 anos, ofereceu-se inicialmente como doador de esperma para 24 famílias e uma mãe solo, sem qualquer tipo de notificação às autoridades médicas. Essa aparente liberdade de escolha, à primeira vista inofensiva, logo escalou para algo muito mais sério. As famílias envolvidas, por sua vez, abraçaram essa informalidade, acreditando estar fazendo um grande negócio. No entanto, à medida que Meijer expandiu seu número de “clientes”, as consequências de suas ações começaram a surgir. Crianças nascidas desse processo, muitas vezes sem o devido acompanhamento ou regulação, cresceram com questões psicológicas profundas, sentindo-se desamparadas e com a sensação de que o mundo lhes devia algo.

No primeiro episódio, as vítimas, como Natalie e Suzanne, um casal homoafetivo de Roterdã, descrevem suas motivações e a ingenuidade que as levou a escolher Meijer. Elas relatam terem ficado encantadas com a aparência física dele, embora, ironicamente, seus elogios não correspondam à realidade. As expectativas criadas em torno da aparência do doador, somadas à sua lábia sedutora, foram suficientes para que o casal ignorasse sinais de alerta. Natalie ainda menciona ter rejeitado um candidato anterior devido a uma cicatriz, revelando o quanto a escolha de um doador pode ser superficial e impulsionada por questões estéticas e emocionais, sem considerar os riscos maiores envolvidos.

O documentário se desenrola como uma acusação pública a Meijer, com depoimentos de pessoas como Nicolette, uma mãe solo que criou um grupo para expor outras vítimas do doador. Sua campanha resultou em um processo judicial na Holanda, onde Meijer foi proibido de doar esperma novamente. Caso ele viole essa proibição, enfrentará uma multa de cem mil euros por cada novo caso. Contudo, chama a atenção o fato de que nenhuma punição foi estipulada para os que continuam a procurar seus serviços, deixando uma lacuna na responsabilização das famílias envolvidas.

Além de abordar as ações de Meijer, o documentário menciona seu papel como influenciador digital, com um canal no YouTube que financiou suas viagens pelo mundo, indo desde o Quênia até a Austrália e os Estados Unidos. No entanto, Allott evita entrar em discussões mais profundas sobre a ética das escolhas dos casais ou sobre os limites da liberdade individual, optando por uma crítica mais centrada na figura de Meijer e nas consequências jurídicas de suas ações. O cenário se agrava ainda mais pela pressão do politicamente correto, que parece ter facilitado a perpetuação desse comportamento irresponsável e altamente prejudicial.

No fim das contas, “O Homem Com Mil Filhos” oferece um retrato inquietante de como o desejo por um filho, aliado à ausência de regulamentação adequada e à falta de bom senso, pode resultar em consequências devastadoras para todos os envolvidos.


Filme: O Homem Com Mil Filhos
Direção: Josh Allott
Ano: 2024
Gêneros: Documentário/Policial 
Nota: 7/10