Filme com Glenn Close alcança o Top 1 mundial da Netflix no segundo dia após a estreia Divulgação / Netflix

Filme com Glenn Close alcança o Top 1 mundial da Netflix no segundo dia após a estreia

Poucos filmes conseguem captar tão bem os desconfortos ancestrais que afligem a existência humana. Para alguns, a vida assume contornos de um embate incessante, onde adversários invisíveis desafiam qualquer tentativa de redenção — e após um certo tempo, o próprio herói já não parece se importar tanto. No universo cinematográfico, Lee Daniels destaca-se na habilidade de enfrentar os fantasmas que residem em nossa psique, e em “A Libertação”, ele mais uma vez empurra os limites do suportável, explorando até onde nossas neuroses pessoais podem nos levar. Seu roteiro, desenvolvido em parceria com David Coggeshall e Elijah Bynum, mergulha profundamente na tênue linha entre a realidade e a ficção na notória história de Latoya Ammons. Esta mulher, que em 2011 estampou manchetes por toda a América, alegava que sua casa estava tomada por entidades malignas. Diversos profissionais, incluindo um assistente social, um médico, um oficial da polícia e até um padre, corroboraram a presença de forças sobrenaturais no lar em que Ammons vivia com sua mãe e seus três filhos. Mas, em sua típica abordagem desafiadora, Daniels não cede tão facilmente ao óbvio.

À medida que avançamos na vida, a sensação de que enfrentamos uma série infinita de desafios se intensifica. Cada novo obstáculo nos empurra para outro, e outro, até que finalmente nos confrontamos com a maior de todas as provações: lidar com a incerteza que permeia cada aspecto da existência. Ela destrói planos, interrompe sonhos, e impõe uma escuridão que parece impenetrável, revelando o quanto somos vulneráveis ao imprevisível. A aparente vitória sobre as adversidades não passa de uma ilusão, pois a natureza das dificuldades, sempre imprevisível, nos subjuga com uma força inescapável. Através de um olhar profundo e crítico, Daniels não apenas narra a história de Ammons, mas provoca reflexões sobre o quanto o desconhecido pode moldar nossas vidas.

Em sua adaptação, Ammons se transforma em Ebony, uma personagem que tenta esconder seus segredos mais sombrios do olhar alheio. Andra Day, com uma atuação magistral, carrega o peso de um roteiro complexo e multifacetado, explorado de maneira sutil e gradual pelo diretor. Ao longo da trama, o público desenvolve empatia pela protagonista, especialmente quando Alberta, sua mãe, vivida por Glenn Close, vai morar com ela durante um período de recuperação do câncer. A tensão constante entre a possibilidade do bem e as armadilhas do mal é o que sustenta a narrativa e mantém o público à beira do abismo. Daniels, com precisão cirúrgica, identifica exatamente onde reside o desconforto, criando uma experiência envolvente que desafia os limites do que é suportável.


Filme: A Libertação 
Direção: Lee Daniels
Ano: 2024
Gêneros: Terror/Suspense
Nota: 8/10