Considerado pela crítica como o pior filme de 2024, suspense da Netflix é o mais visto da atualidade em 53 países

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“Armadilha em Alto Mar”, dirigido por Phil Volken, tenta combinar elementos de crime e terror, mas acaba se perdendo em uma narrativa previsível. O filme, que começa com uma proposta interessante, não consegue manter o ritmo, diluindo-se em escolhas óbvias e personagens pouco explorados. Mesmo com atuações convincentes, a falta de profundidade no roteiro impede que a trama tenha o impacto esperado, deixando o público sem a experiência envolvente que o gênero costuma oferecer.

A trama acompanha Kaya (Isabel Gravitt) e seus amigos Xander (Koa Tom) e Julian (Garrett Wareing), que embarcam em uma viagem de jet ski, mas logo são tragados por uma situação desesperadora. Após um acidente, o grupo fica à deriva no mar, até serem resgatados por Curtis Hunt (Dean Cameron), o capitão de um navio pesqueiro. Porém, o resgate rapidamente se revela uma armadilha, e o grupo se vê preso em um cenário de sobrevivência, onde cada decisão pode significar vida ou morte.

O conceito central, que explora o isolamento do mar aberto e o terror psicológico de estar à mercê de estranhos, poderia ter resultado em uma história cheia de tensão. No entanto, o filme logo se perde em previsibilidades. Desde o resgate, o público consegue prever os próximos acontecimentos, o que diminui o impacto da trama. Ao invés de explorar de forma criativa as possibilidades do enredo, “Armadilha em Alto Mar” segue um caminho óbvio, desperdiçando oportunidades de causar verdadeiro terror.

Os personagens, por sua vez, são outro ponto fraco do filme. Kaya, embora apresentada como engenhosa e determinada, não possui a complexidade necessária para que o público se conecte plenamente com sua jornada. Gravitt entrega uma performance sólida, mas sua personagem é superficial e mal desenvolvida. Xander e Julian existem apenas como coadjuvantes, sem importância própria dentro da narrativa. Até mesmo Curtis Hunt, o vilão interpretado por Dean Cameron, se torna um antagonista genérico, sem que suas motivações sejam devidamente exploradas.

A previsibilidade da trama é acompanhada por um ritmo que se torna lento na segunda metade do filme. Após o acidente inicial e o resgate, a história perde força, com cenas repetitivas e pouca progressão. Os diálogos são fracos e as tentativas de criar suspense muitas vezes falham. Com o público já antecipando o desenrolar dos acontecimentos, o filme carece de um clímax envolvente, tornando a experiência cansativa.

Visualmente, o filme também deixa a desejar. O cenário do mar aberto e o ambiente claustrofóbico do navio poderiam ser usados para criar uma atmosfera sufocante, mas a cinematografia segue um padrão genérico e pouco ousado. As cenas no interior do navio, que poderiam ter intensificado a sensação de perigo, são tratadas de forma convencional. O design de som é igualmente desinteressante; a trilha sonora não consegue amplificar a tensão e acaba por não contribuir para a atmosfera de suspense que um filme de terror demanda.

Ainda assim, há momentos que quase atingem o potencial da premissa. A ideia de um resgate que se transforma em uma armadilha mortal é interessante e, em certos pontos, o filme chega perto de capturar essa tensão. As atuações de Gravitt e Cameron são consistentes, embora limitadas por um roteiro que não explora totalmente seus personagens. Alguns breves momentos de suspense conseguem provocar a ansiedade esperada, mas eles são insuficientes para redimir a previsibilidade da trama como um todo.

Há também tentativas de tocar em temas como a sobrevivência e os limites da crueldade humana. Contudo, essas ideias não são desenvolvidas de maneira significativa, ficando na superfície da narrativa. O filme sugere uma exploração mais profunda desses conceitos, mas a falta de construção emocional e de complexidade nos personagens impede que tais temas ganhem força.

O filme, que prometia uma mistura envolvente de crime e terror, acaba não atingindo seu potencial. A narrativa previsível, os personagens superficiais e a falta de inovação no uso dos elementos visuais e sonoros resultam em uma experiência que dificilmente deixará uma impressão duradoura. Mesmo que possa atrair espectadores em busca de entretenimento simples, “Armadilha em Alto Mar”não se destaca no vasto repertório de filmes de terror, permanecendo como uma oportunidade não concretizada.


Filme: Armadilha em Alto Mar
Direção: Phil Volken
Ano: 2024
Gêneros: Thriller/Drama
Nota: 6/10