90 minutos de risadas garantidas: o filme mais engraçado e divertido que você assistirá este mês na Netflix

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Nem sempre acordamos vivos. Há dias em que notamos a carranca da morte a subtrair-nos o ânimo, poluindo todo o ar com que, a custo, enchemos os pulmões e não demora até que o veneno se espalhe, o desalento vença e tudo fique cinza, demasiado austero, e exale também o mau cheiro da finitude. Em maior ou menor intensidade, estamos todos — homens e mulheres; crianças e adultos; jovens e velhos — irremediavelmente presos na teia imensa que nos liga e torna-nos dependentes uns dos outros, até que movimentos contrários ao nosso desejo começam a agir com força cada vez mais incontrolável e atiram-nos aos limbos particulares aos quais nos apegamos. Em “Morte no Funeral”, Neil LaBute fala da morte apelando ao nonsense, trocando o sinal empregado por Frank Oz no remake do filme britânico de 2007 de mesmo título. Nada aqui faz muito sentido — como a própria morte para muita gente, aliás —, e, em sendo assim, o diretor inclui em sua versão da história toda a bizarrice que consegue, tratando de dar-lhe algum lastro de banal normalidade.

Cada família tem uma organização muito própria, onde o amor, por exemplo, só pode entrar se reivindicado e aceito por todos os membros do clã; tomando-se o gosto que apenas um desenvolve quanto a partilhar o pode haver em si de melhor, enquanto míngua dia após dia sua chance de ser também acolhido, cuidado, estimulado, protegido — não obstante diferenças em assuntos pontuais, logo acertadamente superadas —, o convívio em meio a gente de cujo sangue brotamos ou entre aqueles cuja proximidade de nós só se manifesta diante do espelho transforma-se num inferno, difícil, às vezes impossível, de se bater. Quanto mais se vive, mais se cristaliza em nós a ideia de que a vida é um curioso desafio, em que vencida cada etapa, impõe-se nós a seguinte, e mais outra, e outra ainda, até que essas mil situações que mais parecem testes a nossa resistência, se tornem para nós a fonte mesma do que podemos ter de mais genuíno, a capacidade de suportar a incerteza fundamental que cobre tudo, desfaz dos planos mais ordinários com que nos atrevemos a sonhar, atropela com brutal violência o que julgamos precioso e sobrepuja-nos sua natureza sobranceira, de uma sombra que eclipsa qualquer luz, do funesto que macula de castigo hediondo a salvação possível e aturde-nos mesmo no que temos de mais indevassável, que pensávamos só nosso. Um velório pode o palco ideal para que se ratifiquem essas e outras grandes certezas do existir, com direito a revelações comprometedoras sobre o caso de um pai, o defunto, com outro homem; uma esposa louca para engravidar; e o caos depois que um convidado ingere pílulas alucinógenas pensando se tratar de um calmante. Isso já seria trágico, mas a escatologia do terceiro ato é ainda mais constrangedor. E sem graça.


Filme: Morte no Funeral
Direção: Neil LaBute
Ano: 2010
Gêneros: Comédia/Drama
Nota: 7/10