Todas as culturas, em diferentes partes do mundo, são permeadas por lendas, mitos e histórias místicas. O Brasil, com sua rica diversidade cultural, possui uma infinidade dessas narrativas, algumas amplamente conhecidas e outras mais obscuras. Nos Estados Unidos, um país com uma longa tradição de contar histórias através do cinema, essas lendas ganham uma amplitude global, graças ao poder do entretenimento.
Um exemplo recente é o filme “A Libertação”, dirigido por Lee Daniels, que já foi indicado ao Oscar duas vezes e é conhecido por obras marcantes como “Preciosa: Uma História de Esperança” e “O Mordomo da Casa Branca”. Seu mais novo trabalho é um suspense estrelado por nomes de peso como Glenn Close, Mo’Nique e Caleb McLaughlin, o jovem ator que se destacou na série “Stranger Things”.
“A Libertação” narra a intrigante história da família de Latoya Ammons, cujo nome foi alterado para Ebony no filme e é interpretada pela talentosa Andra Day. Ebony e seus três filhos — Shante (Demi Singleton), Andre (Anthony B. Jenkins) e Nate (Caleb McLaughlin) —, juntamente com sua mãe Alberta (Glenn Close), mudam-se para uma nova residência, onde rapidamente começam a vivenciar fenômenos perturbadores.
Casas mal-assombradas são uma temática recorrente no cinema de terror, especialmente em Hollywood. Embora essa premissa já tenha sido explorada à exaustão, essas histórias continuam a cativar o público, talvez devido à ideia de que são “baseadas em fatos reais”, o que intensifica tanto o fascínio quanto o medo.
Um dos destaques de “A Libertação” é a presença de Glenn Close em um papel totalmente inusitado em sua carreira. Ela interpreta Alberta, a mãe de uma filha afro-americana que vive sob a constante vigilância da assistente social Cynthia. Essa vigilância é impulsionada pelo ex-marido de Ebony, que busca retirar dela a guarda dos filhos. Além disso, Alberta está enfrentando um câncer, e Ebony está em meio a dificuldades financeiras, o que torna a vida dessa família ainda mais desafiadora.
As coisas começam a tomar um rumo ainda mais sombrio quando se mudam para a nova casa, onde eventos estranhos e perturbadores começam a ocorrer. As crianças, que antes eram normais, passam a exibir comportamentos autodestrutivos. O pequeno Andre, por exemplo, começa a agir de maneira bizarra, entrando em estados de transe, afirmando ver um amigo imaginário no guarda-roupa e batendo a própria cabeça contra objetos. Enquanto Ebony tenta desesperadamente manter a guarda de seus filhos e escapar da vigilância de Cynthia, ela também luta para entender o que está acontecendo com eles. A única pessoa em quem pode contar é sua mãe Alberta, que, por sua vez, está debilitada pela doença.
O filme é inspirado em eventos reais vividos pela família Ammons em 2011, após se mudarem para uma casa em Gary, Indiana. Os relatos incluem possessões demoníacas, levitações e outros fenômenos inexplicáveis que confundiram tanto policiais quanto assistentes sociais e exorcistas. “A Libertação” não se limita ao terror sobrenatural; ele também toca em questões profundas de desigualdade social e racial, convidando o espectador a refletir sobre como o paranormal pode interagir com as realidades materiais, especialmente em contextos de vulnerabilidade.
Apesar de suas ambições, o filme falha em aprofundar-se nas questões sociais e na complexidade de seus personagens principais. Glenn Close, uma atriz que já foi indicada ao Oscar oito vezes e é reconhecida por seu imenso talento, acaba subutilizada em um papel que não faz jus à sua capacidade. No fim das contas, “A Libertação” não oferece grandes novidades ao gênero, se somando à lista de suspenses genéricos que Hollywood continua a produzir.
Filme: A Libertação
Direção: Lee Daniels
Ano: 2024
Gênero: Drama/Terror
Nota: 7/10