O último filme de Antoine Fuqua, com Denzel Washington, vale a assinatura do Max Divulgação / Columbia Pictures

O último filme de Antoine Fuqua, com Denzel Washington, vale a assinatura do Max

Robert McCall parecia ter sumido do mapa, mas estava apenas dando um tempo numa vila isolada da Sicília. Assim começa “O Protetor: Capítulo Final”, com uma das sequências mais aterradoras do cinema nos últimos seis anos, quando Antoine Fuqua levou à tela o segundo filme da série, já pródigo das cenas em que Susan Plummer, a melhor amiga e ex-colega de trabalho de McCall, é executada por gângsteres no decorrer da investigação de um assassinato na Bélgica. Agora, Fuqua situa seu mais famoso e querido anti-herói no sul da Itália a fim de reparar essa e outras injustiças, como um sofisticado esquema de escravização de imigrantes. Tudo o que se vira nos dois primeiros longas está em “Capítulo Final”, de forma mais explícita, mérito do diretor e, claro, de seu ator-amuleto. Denzel Washington continua a fazer miséria na pele desse homem cheio de ambiguidades, sempre apto a conferir frescor ao personagem, talvez querendo afrouxar a carapuça e aproveitar um pouco mais a vida, ainda que também determinado a limpar a face da Terra da escória que conhece tão bem.

Se o mundo fosse um imenso campo onde só florescesse o bom, o belo e o justo, ou ao menos um lugarzinho cada vez mais abafado no qual todos soubessem de suas obrigações e colocassem-nas em prática, sem esperar nada de quem quer que seja, mas vivendo apenas de acordo com o que manda a lei, figuras como Robert McCall não seriam tão onipresentes. É claro que os métodos de McCall são questionáveis. Mas como viver em meio à mais baixa extração de bandidos do mundo sem ter por eles algum sentimento, mesmo que com o sinal invertido? Como suportar calado o avanço das drogas, vendidas a céu aberto nas esquinas periféricas das metrópoles, e particularmente sedutora aos jovens? Dá para se recorrer às autoridades? Será mesmo? Ele tem o condão de liquidar uma súcia de mafiosos fazendo o menor esforço possível, e quando a lambança toda acaba, saca do cadáver de um dos bandidos um molho de chaves que há de dar-lhe o que deseja. 

O roteiro de Richard Lindheim, Michael Sloan e Richard Wenk não dá muita importância a esse McGuffin, preferindo investir boa parte das fichas na amizade do personagem central com Khalid, de Zakaria Hamza, um refugiado do Marrocos que trabalha como faz-tudo no comércio local sem nenhuma garantia de que não irá para a rua sem motivo, e em elementos que o público reconhece de imediato e pelos quais esperava com certa apreensão. Emma Collins é agora uma mulher feita, e o entrosamento entre Washington e Dakota Fanning serve de bom alívio dramático antes que em Fuqua retome o leme e mencione a incursão da CIA está em Nápoles, à procura de uma célula terrorista que importa uma droga jihadista e a vende para toda a Europa. Tudo muito formulaico — e muito estimulante.


Filme: O Protetor: Capítulo Final
Direção: Antoine Fuqua
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 8/10