Se existe uma história de amor obrigatória no cinema, é a obra-prima atemporal de Tom Ford, disponível no Canal Max

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Depois de muitos verões morre o cisne, mas antes disso, quanta beleza, quanta graça, quanta majestade! “Tithonus” (1833), o poema de Alfred Tennyson (1809-1892) sobre Titão, príncipe de Troia, filho de Laomedon e Estrimão, a quem a deusa Aurora deu vida para além dos tempos, mas não a eterna juventude, revive 106 anos depois na pena cortante de Aldous Huxley (1894-1963), um incansável combatente donarcisismo, dos pensamentos rasos e da preocupação doentia com a ideia de ser jovem para sempre. Christopher Isherwood(1904-1986) viu na força dos versos de Tennyson e na solércia dos argumentos de Huxley a matéria-prima para tecer suas críticas a um estilo de vida que parecia-lhe confuso, falso, quebradiço, juntando a tais considerações quase científicas uma análise refinada acerca do ser só. Em 1964, o britânico-americano publicou “Um Homem Solteiro”, por seu turno adaptado para o cinema sob o nome infeliz de “Direito de Amar”, um ótimo desfecho para a cadeia iniciada há dois séculos. Esteta profissional, Tom Ford pontua seu trabalho com filigranas como os ternos e vestidos desenhados por Arianne Phillips, um assunto que domina como poucos, a fim de chegar ao que de fato interessa. Enquanto isso, expõe temas sérios equilibrando-se entre o melodrama e a tensão com pitadas de humor sutil, num movimento pendular e calculado que enfeitiça até a última cena.

Como mandava o espírito daqueles tempos,George Falconer, um professor universitário de cinquenta e poucos anos que trocou a Inglaterra por Los Angeles, mantém na discrição mais absoluta seu relacionamento com Jim, um homem mais novo com quem mora numa suntuosa casa de vidro. O roteiro de Ford e David Scearceaproveita esses detalhes do texto deIsherwood de modo a escancarar uma ferida que segue aberta na pós-modernidade e que ardeu em sua própria carne. Aos poucos, fica claro que, mesmo que continue a se arrumar com esmero, a escovar os sapatos, a envergar os melhores ternos, a preocupar-se com o nó da gravata, George tenta resistir ao luto pela morte do companheiro, num brutal acidente de carro em que também morreram os cachorros do casal, há alguns meses. A sufocante melancolia que paira sobre essa figura um tanto imperial não o impede de continuar ministrando suas aulas, e é na universidade que consegue um sopro a mais de vida, ainda que não o procure.

Ao concluir mais um expediente, ele é seguido por Kenny Potter, um aluno na turma de literatura comparada, e a partir desse momento, Ford dá azo a um jogo de tensão sexual que envolve

George, Kenny e o finado Jim, surgindo em flashbacks que se alongam até o encerramento. Nesse tópico, um flerte entre George e Carlos, o traficante madrilenho vivido por Jon Kortajarena, toma bons minutos do enredo, apenas para reforçar o labirinto emocional do protagonista, e dias depois, um jantar com Lynn Redgrave, a ex-namorada rica e alcoólatra de Julianne Moore, ótima numa participação afetiva, presta-se a somente atordoá-lo ainda mais.Colin Firth, Matthew Goode e Nicholas Hoult encarnam cada qual uma face muito específica do amor que não ousa dizer seu nome no que acaba como uma ode meio bizarra à esperança e ao sonho. Que não despreza o acaso nem a morte.


Filme: Direito de Amar
Direção: Tom Ford 
Ano: 2010
Gêneros: Drama/Romance 
Nota: 10