O primeiro e único filme da Netflix a permanecer 15 semanas consecutivas no Top 5 mundial Divulgação / Netflix

O primeiro e único filme da Netflix a permanecer 15 semanas consecutivas no Top 5 mundial

“Alerta Vermelho” exemplifica como grandes produções de streaming, mesmo com orçamentos astronômicos, nem sempre traduzem investimento em qualidade cinematográfica. Embora a Netflix tenha se esforçado para agradar o público, com um elenco estrelado e um diretor experiente, o resultado não atinge a profundidade esperada de um novo clássico, desvanecendo rapidamente as expectativas.

Com um orçamento colossal de US$ 200 milhões (aproximadamente R$ 1,12 bilhão), a Netflix apostou alto na produção dirigida e roteirizada por Rawson Marshall Thurber. A trama, centrada em dois ladrões de antiguidades raras, promete reviravoltas, mas cai em clichês já saturados no gênero. Para efeito de comparação, “O Irlandês” (2019), de Martin Scorsese, com US$ 160 milhões, ofereceu uma narrativa muito mais rica e complexa. Grande parte do orçamento de “Alerta Vermelho” foi direcionada aos salários das estrelas, levantando questões sobre a alocação de recursos e o impacto no produto final.

Dwayne Johnson, Ryan Reynolds e Gal Gadot, apesar de entregarem performances competentes, não conseguem elevar o filme além de um entretenimento passageiro. Johnson, no papel do agente John Hartley, lidera a ação inicialmente, até ser forçado a unir forças com Nolan Booth, o irreverente ladrão vivido por Reynolds. Juntos, eles tentam recuperar uma relíquia valiosa, um dos lendários ovos de ouro supostamente dados a Cleópatra por Marco Antônio. No entanto, a peça acaba nas mãos de Sarah Black, a criminosa astuta conhecida como “O Bispo”, interpretada por Gadot.

A introdução rápida de Gadot traz um toque de mistério, mas flashbacks mal explorados e uma dependência excessiva do trio principal sufocam o desenvolvimento de personagens secundários. Urvashi Das, interpretada por Ritu Arya, emerge como uma adversária interessante, mas seu talento é subutilizado, evidenciando um dos maiores problemas do filme: o foco estreito que limita o potencial do elenco.

As referências a franquias como “007” e “Onze Homens e um Segredo” (2001), e homenagens a clássicos como “De Olhos Bem Fechados” (1999), parecem inserções forçadas, mais uma tentativa de evocar nostalgia do que de acrescentar substância. Ryan Reynolds, conhecido por seu humor afiado, recorre a piadas repetitivas que podem perder o impacto, e a química entre ele e Johnson, embora presente, não carrega o peso esperado. Gadot, apesar de sua presença marcante, não consegue sustentar sozinha a narrativa fragmentada.

“Alerta Vermelho” pode não ser o marco que se almejava, mas cumpre o papel de entretenimento leve. A busca da Netflix por espetáculo em detrimento da profundidade reflete os desafios e riscos inerentes à produção de blockbusters no cenário contemporâneo. Em uma das cenas, uma autorreferência sutil capta bem as complexidades da indústria cinematográfica atual, onde o espetáculo visual muitas vezes sobrepõe a narrativa.


Filme: Alerta Vermelho
Direção: Rawson Marshall Thurber
Ano: 2021
Gêneros: Ação/Comédia
Nota: 7/10