O primeiro filme da Netflix a alcançar o Top 1 mundial em mais de 100 países no dia da estreia Divulgação / Netflix

O primeiro filme da Netflix a alcançar o Top 1 mundial em mais de 100 países no dia da estreia

No vasto Pacífico Norte, uma massa flutuante, conhecida como o sétimo continente, se estende por três milhões de quilômetros quadrados, uma área equivalente a seis vezes o tamanho da França. Esta imensidão de detritos plásticos é supervisionada pela Missão Ocean Origins, uma força-tarefa do projeto Evolução, cujo objetivo é reduzir a morte anual de cerca de um milhão de aves e mamíferos marinhos, vítimas da ingestão de materiais inorgânicos como plásticos e metais que lentamente destroem seus organismos. A abertura de “Sob as Águas do Sena” evoca a familiar narrativa de uma catástrofe ambiental causada pela humanidade, remetendo à destruição dos oceanos, que são os verdadeiros cofres de nossa biodiversidade.

O enredo do filme, dirigido por Xavier Gens e coescrito por Sebastien Auscher e Yannick Dahan, emerge desse cenário para narrar a história de um grupo de tubarões que, fugindo da contaminação no oceano, encontra refúgio no rio Sena, em pleno coração de Paris. Esta premissa, que em um primeiro momento parece absurda, serve para questionar a conveniência de sediar eventos aquáticos no rio durante as Olimpíadas de 26 de julho, uma crítica sutil que Gens insere sem mencionar diretamente, mas que inevitavelmente leva o público a refletir sobre os perigos da poluição e o impacto ambiental em áreas urbanas.

Sophia, a personagem central, lidera um grupo de cientistas do projeto Evolução, focado em estudar Lilith, uma tubarão-fêmea que tem apresentado um crescimento alarmante em um curto período. Quando a carcaça de um filhote de cachalote é encontrada envolta em lixo, com o estômago cheio de plástico, fica claro que a degradação dos oceanos está atingindo níveis insustentáveis. A cena em que Lilith ataca Sophia e a arrasta para as profundezas do Sena serve como catalisador para um debate urgente sobre as responsabilidades humanas na preservação do meio ambiente e na prevenção de desastres ecológicos.

Em tempos de negação da ciência, o filme mostra como a natureza reage à exploração humana, forçando uma espécie desesperada a buscar sobrevivência em um ambiente que lhe é hostil. Este predador, privado de suas presas habituais devido à destruição da cadeia alimentar, se vê obrigado a invadir novos territórios, e a resposta humana, no século 21, ainda é a de exterminar o “Invasor” ao invés de adotar medidas racionais e sustentáveis baseadas em ciência. Essa narrativa reflete o caos contemporâneo e a falta de alternativas inteligentes para a convivência com a natureza em mutação.

Bérénice Bejo, uma atriz de renome, parece seguir uma trajetória incerta ao aceitar papéis como o de “Sob as Águas do Sena”. Assim como em “Nada a Esconder” (2018), dirigido por Fred Cavayé, sua interpretação carece de profundidade e acaba perpetuando preconceitos, como a xenofobia. A escolha de abordar a presença de tubarões no Sena às vésperas de um evento internacional como as Olimpíadas soa mais como uma desculpa elitista para proteger Paris dos “monstros”, do que uma crítica legítima à poluição dos mares. Há formas mais eficazes e honestas de denunciar a degradação ambiental sem recorrer a clichês alarmistas e narrativas simplistas.


Filme: Sob as Águas do Sena
Direção: Xavier Gens
Ano: 2024
Gêneros: Terror/Suspense 
Nota: 7/10