O filme argentino, que foi indicado a mais de 100 prêmios e é considerado um dos melhores filmes da década, está no canal Max Divulgação / Warner Bros.

O filme argentino, que foi indicado a mais de 100 prêmios e é considerado um dos melhores filmes da década, está no canal Max

“Relatos Selvagens” é uma coleção estrondosamente divertida de “seis histórias mortais de vingança”. O brilhantismo do filme, produzido por Pedro Almodóvar, reside em sua combinação de excesso e banalidade. Há muita violência aqui, muitas vezes encenada de maneira tão extrema e cômica que beira o cartunesco. Ao mesmo tempo, o escritor e diretor argentino Damián Szifron enraíza as histórias em circunstâncias que qualquer cinéfilo reconhecerá. Se você já recebeu uma multa de estacionamento, participou de um casamento que saiu de controle ou guardou rancor dos tempos de escola, reconhecerá as motivações dos protagonistas.

As histórias, embora distintas, estão ligadas por temas comuns que exploram “catarse, vingança e destruição… e o prazer inegável de perder o controle”, como Szifron descreve. Cada narrativa começa de maneira relativamente contida e, a partir de situações cotidianas, se amplifica de forma surpreendente e intensa.

Assim como em “Tales of the Unexpected”, de Roald Dahl, o filme constantemente surpreende, com o chão sendo puxado debaixo dos pés dos personagens e dos espectadores repetidamente. O que torna “Relatos Selvagens” especialmente estimulante é a maneira como os personagens se libertam de suas amarras, descobrindo o quão libertador e intoxicante pode ser transgredir. Eles usam violência, sexo e subterfúgio para se vingarem de um mundo que tenta esmagá-los. Há uma tremenda, quase infantil, alegria no comportamento desregrado, que ocasionalmente assume formas grotescas.

Visualmente impactante e emocionalmente catártico, “Relatos Selvagens” é difícil de descrever sem revelar detalhes essenciais da trama. No entanto, uma imagem resume perfeitamente a abordagem anárquica do filme: a íntima relação entre vingador e sua presa, onde um não pode existir sem o outro. Essa dinâmica alimenta cada uma das histórias, criando uma sensação de inevitabilidade e intensidade emocional que prende o espectador do início ao fim.

Mérito de Szifron pela brilhante narrativa e direção perspicaz: os atores se movem como peças em um tabuleiro de damas, indo para o outro lado sem saber quais chegarão lá. Alguns merecem seu destino; outros estão fadados a ele, não importa o que façam. Como público, através de suas performances, você se livra da raiva acumulada, confronta seus antagonistas e experimenta, ainda que de forma vicária, a doce vingança contra instituições desumanizantes e relacionamentos que falharam.

A edição afiada de Pablo Barbieri Carrera, a cinematografia de Javier Julia, com sua iluminação perfeita e grande senso de cor, e o design de produção de María Clara Notari, tudo contribui para a atmosfera envolvente do filme. O elenco, cuidadosamente escolhido por Javier Braier, é diverso e versátil, entregando performances que oscilam entre o bobo, o provocador, o maldoso e o gloriosamente perverso nos momentos certos.

Se uma transgressão passada tem corroído sua alma, “Relatos Selvagens” pode ser o remédio que você precisa. Como uma sessão de terapia em grupo, este filme oferece uma catarse coletiva, permitindo ao público livrar-se da raiva acumulada e experimentar, mesmo que apenas na tela, a doce vingança contra um mundo que tenta esmagá-los. É, sem dúvida, um dos filmes mais catárticos e emocionantes já feitos, onde a linha entre justiça e vingança é deliciosamente borrada, e onde o espectador é levado a confrontar seus próprios demônios de uma maneira que é ao mesmo tempo perturbadora e profundamente satisfatória.


Filme: Relatos Selvagens
Direção: Dámion Szifron
Ano: 2014
Gêneros: Comédia/Thriller
Nota: 10