Obra-prima da A24 aclamada pela crítica, com Tilda Swinton, acaba de chegar à Netflix Divulgação / A24

Obra-prima da A24 aclamada pela crítica, com Tilda Swinton, acaba de chegar à Netflix

“O Souvenir — Parte 2” é um drama nada convencional, introspectivo, minimalista e artístico, dirigido por Joanna Hogg e delicadamente estrelado por Honor Swinton Byrne e sua mãe, a renomada atriz Tilda Swinton. O filme marca a estreia de Honor como atriz e, apesar da delicadeza e ingenuidade com que sua personagem é interpretada, ela ocupa as cenas com desenvoltura e confiança. Esta obra é a sequência de “O Souvenir”, um filme quase autobiográfico de Hogg.

Confesso que não assisti ao primeiro filme. O segundo acaba de ser lançado na Netflix sem o seu antecessor, mas mesmo assim decidi mergulhar nessa experiência para ver como seria para um marinheiro de primeira viagem. Se pudesse, teria assistido ao anterior, pois acredito que ele acrescentaria bastante ao entendimento da sequência, que não é tão simples e intuitiva quanto parece. Há uma história complexa por trás da personagem principal que não compreendemos totalmente apenas assistindo ao segundo filme.

Uma breve pesquisa me deixou mais ou menos ambientada. A personagem interpretada por Honor é Julie, uma jovem aspirante a cineasta que conhece um homem mais velho e elegante chamado Anthony (Tom Burke). Ele a introduz a uma vida boêmia, cheia de discussões sobre arte, literatura e cinema, o que faz com que Julie amplie seus horizontes intelectuais e culturais. No entanto, ela acaba descobrindo que ele é viciado em heroína, o que adiciona uma camada sombria e conflituosa ao relacionamento. A ingenuidade de Julie a torna emocionalmente dependente de Anthony, levando-a a enfrentar desafios que jamais havia experimentado. Mas as coisas se tornam ainda mais obscuras quando Anthony morre, deixando Julie em um abismo emocional.

É aí que começa a história de “O Souvenir — Parte 2”. Nessa continuação, Julie tenta seguir com sua vida, mas a melancolia e o vazio do luto a deixam emocionalmente à deriva. Vemos ela tentando se relacionar novamente, mas enfrentando dificuldades para permitir que uma nova pessoa entre em sua vida.

Há um diálogo marcante no qual ela diz à terapeuta que não sabe se sente falta de Anthony e de toda a sua complexa e vasta persona, que ainda vive, apesar de sua morte, na mente de Julie. Afinal, é realmente difícil assimilar a morte. Ou se ela sente falta de ter aquele tipo de intimidade com alguém e do fato de ter uma pessoa para liderar suas escolhas, levá-la a correr riscos e protegê-la. Particularmente, achei este diálogo belíssimo, porque expressa muito da verdade sobre o luto.

Tilda Swinton, amiga pessoal de Hogg, interpreta Rosalind, a mãe de Julie. É incrível como, mesmo em papéis pequenos, Tilda consegue transformar a cena em algo mais marcante com sua presença mística. Tilda é uma figura atemporal, sem gênero, sem cor, que torna tudo transcendental com sua atuação.

Em “O Souvenir — Parte 2”, temos um cinema de arte que expressa emoções muito particulares da realizadora e que precisam ser degustadas, saboreadas e digeridas. Nada é fácil de entender, mas as cenas transmitem sentimentos e emoções.


Filme: O Souvenir — Parte 2
Direção: Joanna Hogg
Ano: 2021
Gênero: Drama
Nota: 9

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.