É quase impossível não se encantar por Christopher Plummer, independentemente do papel que ele assume. Aos 90 anos, ele ainda exala charme e carisma, transformando qualquer filme em algo digno de nossa atenção. Em “Limites”, uma comédia dramática que explora os conflitos e laços de uma família disfuncional, Plummer se destaca como Jack, um idoso traficante expulso de seu asilo por sua vida fora da lei.
Este personagem distante se reconecta com sua filha Laura (interpretada por Vera Farmiga) através de um acordo de conveniência: ele oferece dinheiro para cobrir as despesas da escola de artes de seu neto, Henry (Lewis McDougall), em troca de um lugar temporário para morar.
Laura hesita em deixar Jack se aproximar novamente, uma vez que seu passado de pai ausente ainda a assombra. Ela cresceu sentindo a ausência da figura paterna e teme reviver essa dor, agora com seu filho Henry. A maior preocupação de Laura é que Henry, que já enfrenta problemas de aceitação, sofra uma decepção caso Jack os abandone. A consequência do trauma de Laura é visível em seu comportamento: ela se torna uma resgatadora compulsiva de animais abandonados, preenchendo o vazio familiar que sempre sentiu.
Henry, por sua vez, é um adolescente artisticamente talentoso e peculiar, com uma sensibilidade aguçada e um gosto incomum por desenhar pessoas nuas a partir de sua imaginação, o que frequentemente causa desconforto e o torna alvo de bullying na escola. Inadaptado, ele anseia por uma mudança para uma escola de arte que o compreenda melhor.
Com a chegada de Jack, uma reviravolta ocorre: ele esconde uma grande quantidade de maconha, avaliada em 200 mil dólares, no porta-malas do carro de Laura. Ele revela esse segredo a Henry, tentando recrutá-lo como cúmplice em suas atividades ilícitas. Laura, por sua vez, planeja uma viagem pelo país, até a casa de sua irmã Jojo (Kristen Schaal), onde pretende deixar Jack. Assim, Laura, Jack e Henry iniciam uma jornada de Seattle a Los Angeles. Essa travessia é marcada por paradas frequentes, onde Jack conduz suas transações, e também por longas horas de viagem, que se tornam ainda mais prolongadas pelas tensões e interações entre eles.
Durante a viagem, Henry expressa o desejo de visitar seu pai, Leonard (Bobby Cannavale). Apesar do histórico conturbado entre Laura e Leonard, a viagem se transforma em uma oportunidade de reconciliação, resultando em um breve momento de romance entre os dois, culminando em uma cena intensa onde Jack agride Leonard.
Jack, com seu charme e espírito livre, não representa o ideal de figura paterna ou avô. No entanto, ele demonstra carinho e afeto de maneiras peculiares e, muitas vezes, hilárias, seja através de piadas de gosto duvidoso ou de comentários sinceros demais para serem ditos em público. Sua personalidade magnética cativa tanto Laura quanto Henry, que começam a desejar sua presença em suas vidas. No entanto, a natureza volátil de Jack é uma constante; seu comportamento errático faz parte de quem ele é, e a possibilidade de ele desaparecer novamente paira sobre eles como uma sombra inevitável.
“Limites” se destaca como uma narrativa cativante e comovente, combinando humor e sensibilidade de forma delicada. Mesmo quando a trama flerta com clichês, a direção de Shana Feste mantém o filme leve e terapêutico, com atuações marcantes e adoráveis que conferem profundidade emocional. É o tipo de filme que aquece o coração, mas que também pode mexer com feridas familiares antigas, especialmente para aqueles que ainda enfrentam questões não resolvidas em seus próprios relacionamentos.
Filme: Limites
Direção: Shana Feste
Ano: 2019
Gênero: Comédia/Drama
Nota: 10