A cultura pop foi profundamente transformada após o surgimento de Lassie. A icônica rough collie, estrela do romance “A Força do Coração” (1940) de Eric Knight, originalmente um conto publicado no “Saturday Evening Post” em 1938, se tornou um marco cultural, ao ponto de qualquer cachorro da mesma raça, ou até mesmo que se assemelhasse a ela, ser identificado como “Lassie”.
Não surpreendentemente, Hollywood rapidamente viu o potencial dessa história, e em 1943 lançou o filme “Lassie, a Força do Coração”, dirigido por Fred McLeod Wilcox. Nesse longa-metragem, a cadelinha foi retratada por Pal, um collie macho, enquanto uma jovem Elizabeth Taylor, então com apenas onze anos, começava a trilhar seu caminho para o estrelato.
“Juntos para Sempre” é mais uma adição à lista de filmes que exploram a relação íntima entre cães e humanos, trazendo à tona uma conclusão poética e até um tanto fantasiosa: talvez esses laços profundos que compartilhamos com os cães se estendam por diversas existências. O roteiro, baseado no livro “A Dog’s Journey” de W. Bruce Cameron, publicado em 2012, foi adaptado por Cameron, Maya Forbes, Cathryn Michon e Wallace Wolodarsky.
A narrativa foca na lealdade quase mítica de um cão especial e, sob a direção de Gail Mancuso, conhecida por seus trabalhos na TV americana, transforma-se em uma sequência de alegorias repletas de simbolismo e beleza, mostrando um filhote incansável em sua missão de cumprir um propósito transcendental.
Filmes com animais possuem uma capacidade única de capturar instantaneamente a atenção do público, algo que histórias de pessoas comuns ou de figuras heroicas costumam levar mais tempo para alcançar. Isso, claro, à parte aquelas narrativas centradas em crianças-prodígio ou na luta contra doenças devastadoras, que também cativam rapidamente.
Ao esquecer momentaneamente as facilidades da vida moderna e voltar nossa atenção para o que há de mais simples na essência humana, frequentemente descobrimos respostas que pareciam estar escondidas em nosso ser desde que nascemos. Essa busca incessante, às vezes racional e outras vezes irracional, ecoa a jornada de um poeta solitário, perdido em suas fantasias, buscando o conforto de um beijo angelical enquanto atravessa o arco-íris em busca de seu tesouro dourado.
Na trama de “Juntos para Sempre”, acompanhamos Bailey, que inicialmente reencarna em um corpo de um imponente híbrido de são-bernardo com pastor australiano. Ao longo do filme, ele passa por diversas transformações, assumindo diferentes identidades, incluindo uma passagem pelo sexo oposto como a cachorrinha Molly, até se transformar em um teimoso yorkshire.
Em todas as suas vidas, ele é guiado pelo amor e pela lealdade à jovem Clarity June Mitchell, ou CJ, uma garota envolta em dilemas emocionais que a atriz Kathryn Prescott interpreta com uma autenticidade tocante. Ao lado de seu cãozinho, CJ enfrenta os desafios impostos por sua mãe negligente e alcoólatra, Gloria, vivida de forma marcante por Betty Gilpin.
O clímax do filme, com Bailey correndo livremente nos campos de centeio de uma dimensão paralela, oferece um desfecho poético e envolvente. Mais do que uma continuação de “Quatro Vidas de um Cachorro” (2017), dirigido por Lasse Hallström, “Juntos para Sempre” se destaca como uma narrativa envolvente e emocionalmente rica, que mantém o espectador cativado até o último minuto.
Filme: Juntos para Sempre
Direção: Gail Mancuso
Ano: 2019
Gêneros: Aventura/Comédia/Drama
Nota: 8/10