Foram milhões de fins do mundo. Quando a porta bateu, o riso encolheu, a música parou. Foram milhões de fins do mundo. No diagnóstico perverso, na febre contínua, no medo da morte. Foram milhões de fins do mundo. Quando a vontade passou, a esperança esfaleceu, a história virou pó. Foi o fim do mundo da expectativa frustrada, dos planos negados, do nó na garganta. Foi a tarde chuvosa, o corpo cansado, a luz apagada. Foram milhões de fins do mundo. No emprego perdido, no amor esgotado, na falta de sorte. Foi a raiva, a perda, a saudade, a solidão implacável. A mente inquieta, o coração perturbado, a falta de jeito. Foram milhões de fins do mundo. No abandono injustificável, na injustiça impiedosa, na sensação de impotência. Foi a conta bancária arrasada e as dívidas na mesa. A dedicação integral e a ingratidão como troco, o sumiço de quem dormia ao lado, o silêncio de quem cantava junto. Foram milhões de fins do mundo. No medo de não conseguir sozinho, na incerteza sobre o futuro, na nostalgia. Foi a vontade de se recolher quando tudo girava, de negar a si mesmo, paralisar o tempo, pedir ajuda, esquecer a vida.
Foram milhões de novos mundos. Quando o céu se abriu, a banda tocou, a fé ressurgiu. Foram milhões de novos mundos. No resultado esperado, na notícia da cura, na saúde perfeita. Foram milhões de novos mundos. Quando os amigos ligaram, a estrutura se ergueu, a piada voltou a ter graça. Foi o novo mundo da paz restaurada, dos objetivos ressignificados, do olhar sereno. Foi a manhã produtiva, a mente arejada, o alinhamento dos trilhos. Foram milhões de novos mundos. No currículo aceito, no encontro inusitado, nas bênçãos invisíveis. Foi a gargalhada, a casa cheia, o novo amor, o brinde sem data marcada. Foram milhões de novos mundos. Nas companhias recentes, no colo antigo, na sensação de recomeço. Foi a confiança recuperada e as cartas na mesa, a dedicação integral e a cooperação como troco, a descoberta de outros destinos, a voz firme e a alma leve. Foram milhões de novos mundos. No mérito por conseguir reverter o jogo, no fim da busca por resolver o futuro, no prazer do tempo presente. Foi a vontade de dançar quando tudo girava, de aceitar a si mesmo, abraçar o tempo, insistir na luta, seguir a vida.
Pode ser que amanhã o mundo acabe. Avise ao seu desespero que quando menos se espera ele renasce.