Baseado na ficção histórica de Bernard Cornwell, que vendeu 30 milhões de cópias, o filme da Netflix é considerado uma obra-prima Divulgação / Netflix

Baseado na ficção histórica de Bernard Cornwell, que vendeu 30 milhões de cópias, o filme da Netflix é considerado uma obra-prima

Poucas nações na história da humanidade se empenharam tanto para alcançar o status de grande potência como a Inglaterra. “The Last Kingdom: Seven Kings Must Die” deixa claro, desde o título, o que se propõe a contar o filme de Edward Bazalgette, um londrino com uma trajetória diversificada. De ex-guitarrista e astro da banda britânica dos anos 1980, The Vapors, que alcançou sucesso moderado com o hit “Turning Japanese” (1980), Bazalgette trilhou um caminho extenso até se estabelecer como diretor de cinema. Sua incursão no audiovisual começou com produções para a BBC, onde foi convidado a participar de edições em filmes de baixo orçamento, até finalmente despontar como diretor da série documental “As Sete Maravilhas do Mundo Industrial” (2003), também da BBC, onde explorou outro tema no qual os ingleses têm vasta experiência.

O filme se desenrola a partir das complexas disputas de poder na Inglaterra, que nem sempre foi conhecida por esse nome, como o roteiro de Martha Hillier faz questão de destacar. A produção é um desdobramento da série “The Last Kingdom” (2015-2020), distribuída pela Netflix e baseada nas “Crônicas Saxônicas” de Bernard Cornwell. Hillier mantém-se fiel ao material original, mas é a direção habilidosa de Bazalgette, aliada à edição frenética de Adam Green, que transforma as batalhas pelo poder e a efêmera paz na nascente Grã-Bretanha em uma narrativa vibrante. Durante aproximadamente um século, os dinamarqueses causaram grande instabilidade no Reino Unido, com as guerras entre os saxões e os invasores escandinavos exigindo um herói que pudesse restaurar a paz, ainda que temporária. A morte recente de Alfredo, o Grande (848-899), rei de Wessex e soberano de todos os domínios anglo-saxões, é retratada como o momento de maior fragilidade da monarquia, criando uma oportunidade que os dinamarqueses não tardam em explorar para semear o caos.

O destino, em sua ironia característica, reserva a Uhtred, um saxão com sangue dinamarquês, a tarefa de reunificar os territórios que Alfredo havia consolidado. Interpretado com carisma por Alexander Dreymon, Uhtred se lança ao desafio de despertar o espírito de irmandade nas pequenas suseranias de Winchester e Glastonbury, no reino de Wessex; Bamburg, na Nortúmbria; Aylesbury, no reino da Mércia; e Stirling, na Escócia, com o objetivo de enfrentar o exército inimigo vindo da Jutlândia. Sua missão, no entanto, é constantemente ameaçada pela inconstância do jovem governante Aethelstan, retratado por Harry Gilby como um príncipe inicialmente entregue a seus impulsos e vulnerável às piores influências. À medida que a história avança, Bazalgette destaca com maestria a nobreza de ambos os personagens principais, sublinhando as qualidades que tornaram a Inglaterra um exemplo de prestígio e estabilidade na política mundial.

O filme não apenas resgata um período turbulento da história inglesa, mas também celebra as virtudes que permitiram ao país emergir como uma força dominante no cenário europeu. Através de uma narrativa rica em detalhes e uma direção que capta a essência do conflito, “The Last Kingdom: Seven Kings Must Die” reafirma o talento de Bazalgette para contar histórias que são ao mesmo tempo épicas e profundamente humanas.


Filme: The Last Kingdom: Seven Kings Must Die
Direção: Edward Bazalgette
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Drama
Nota: 9/10