Em “Depois da Terra”, o enredo acompanha a jornada de um pai e seu filho em um mundo completamente transformado, onde a Terra como a conhecíamos não existe mais. A narrativa, assinada por M. Night Shyamalan, conhecido por seus contos pós-apocalípticos, mergulha o espectador em uma atmosfera constante de iminente catástrofe, capaz de atravessar a tela e envolver quem assiste. Shyamalan, cujo histórico inclui títulos como “A Vila” (2004), “A Dama na Água” (2006), “Fim dos Tempos” (2008) e “O Último Mestre do Ar” (2010), apesar das críticas negativas e do pouco sucesso de público, mantém sua obsessão pelo fim do mundo, uma questão que permeia toda sua filmografia. Cada pessoa, afinal, possui sua própria visão sobre como esse evento derradeiro ocorrerá.
O roteiro, coescrito por Shyamalan, Gary Whitta e Will Smith, apresenta Cypher Raige e Kitai, dois guerreiros que, por acidente, retornam ao antigo Planeta Azul. Agora, confrontam a devastação deixada por criaturas que caçam humanos guiadas pelos instintos mais básicos e inseparáveis de nossa natureza. Shyamalan consegue dar nova vida ao seu pessimismo característico, conduzindo o espectador por uma trama repleta de emoções complexas e intrigantes.
Cypher e Kitai são oriundos de Nova Prime, uma colônia estabelecida pela Força Ranger Unida, um grupo de elite formado pelos últimos sobreviventes da Terra. Há mil anos, a existência de vida fora de Nova Prime se tornou uma lenda esquecida. Agora, esses dois personagens lutam para sobreviver em um ambiente hostil, obrigados a abandonar toda a evolução pela qual passaram, na esperança de retornarem à sua terra natal, que outrora fora um paraíso, um lugar repleto de maravilhas e segredos essenciais para a sobrevivência da espécie humana. Agora, eles enfrentam as ursas, criaturas cegas que caçam guiadas pelos feromônios liberados pelo medo.
O diretor reforça essa premissa através de diálogos impactantes, como quando Cypher diz a Kitai, à beira de desistir, que “o único lugar onde o medo pode existir é em nossos pensamentos sobre o futuro”. Shyamalan aposta fortemente na química entre Will e Jaden Smith, que voltam a atuar juntos após sete anos desde “À Procura da Felicidade” (2006), de Gabriele Muccino. Cypher Raige, conhecido como o Fantasma Original, é o único que consegue manter uma certa ordem neste cenário caótico. Seu apelido se justifica pelo fato de ser aparentemente destemido, o que o torna invisível para as ursas.
Shyamalan se destaca por explorar as emoções mais primitivas do público, recurso essencial para alcançar seus objetivos narrativos. Em “Depois da Terra”, a colaboração com Smith se encaixa perfeitamente em sua proposta de enfatizar a urgência de um pai em proteger seu filho, uma metáfora poderosa sobre os rumos incertos da humanidade, impulsionada por uma busca insaciável por poder e progresso. No entanto, o filme também reflete, acima de tudo, o próprio temor de Shyamalan em falhar na proteção de sua família, como também abordado em seu recente “Armadilha” (2024). No final, Cypher e Kitai se separam, deixando no ar uma mensagem inquietante sobre a responsabilidade individual de cada um na deterioração da vida, independentemente do ponto do universo onde estejam.
Filme: Depois da Terra
Direção: M. Night Shyamalan
Ano: 2013
Gêneros: Ação/Ficção científica
Nota: 8/10
