Um dos últimos trabalhos de Bruce Willis antes de adoecer, na Netflix Divulgação / Five Star Film

Um dos últimos trabalhos de Bruce Willis antes de adoecer, na Netflix

Lentamente, Bruce Willis vai se tornando apenas uma sombra distante nos bastidores de Hollywood. O icônico protagonista da franquia “Duro de Matar” (1988-2013), onde ele interpretou o memorável John McClane — um detetive de Nova York enfrentando ameaças terroristas enquanto arrisca a vida de sua própria família —, está cada vez mais perdido em meio à afasia que o obrigou a abandonar sua carreira. Esse distúrbio progressivo de linguagem tem, aos poucos, aprisionado Willis em um mundo de silêncio, afastando-o dos holofotes e do carinho de seus fãs.

Em retrospecto, muitos dos filmes recentes em que Willis esteve envolvido parecem quase um adeus silencioso, como se o ator estivesse se despedindo lentamente de seu público. Um exemplo claro disso é o thriller “No Lugar Errado”, de Mike Burns, no qual Willis mais uma vez encarna um personagem que mistura ingenuidade, tensão e uma natureza explosiva. Nesse filme, ele enfrenta dilemas pessoais que tornam sua vida um verdadeiro inferno, mas que não levam a grandes resoluções.

Assim como em “No Lugar Errado”, as produções “Fuga da Morte” (2021), também de Burns, e “Um Dia para Morrer” (2022), dirigido por Wes Miller, marcam essa fase melancólica da carreira de Willis. Estas obras, longe de serem memoráveis, acabam por sublinhar o triste afastamento de uma lenda do cinema. O roteiro de Bill Lawrence, por exemplo, é uma repetição de clichês já saturados, nos quais o protagonista sacrifica sua própria segurança para proteger aqueles que ama, apenas para ser confrontado pelas consequências trágicas de suas ações passadas.

Ao descobrir que Chloe, sua única filha, interpretada por Ashley Greene, está com câncer em estágio avançado, Frank Richards (Willis) e sua esposa Maggie (Lauren McCord) saem para jantar, onde se entregam ao vinho e a discussões superficiais. Mike Burns tenta adicionar camadas de profundidade aos personagens ao explorar os conflitos entre Frank e Maggie, mas esses embates nunca se concretizam de forma significativa. O público pode apenas imaginar as tensões que pairam sobre o casal, sem nunca ver essas questões realmente abordadas.

Apesar da seriedade de sua condição, a personagem de Ashley Greene percorre o filme, ganhando relevância na transição para o clímax, em cenas de tensão que de fato acrescentam alguma dinâmica à narrativa. A situação se agrava quando Jake Brown, um traficante vivido por Michael Sirow, sequestra Chloe. Frank, que anteriormente tinha uma carreira promissora na polícia, foi afastado após ser responsabilizado pela morte de sua esposa, e agora trabalha como segurança de armas. O filme, no entanto, não esclarece se esses eventos estão conectados, deixando um vácuo na compreensão do público.

“No Lugar Errado” se conforma em ser uma confusão de cenas que tentam se encaixar, mas acabam por não levar a lugar nenhum. Bruce Willis, um ator cuja carreira foi marcada por performances icônicas e carismáticas, merecia um fim de carreira mais memorável. Em vez disso, ele parece estar encerrando seu tempo na indústria de forma triste e esquecível. Seria mais digno lembrar dele como o sempre charmoso David Addison Jr., o detetive espirituoso de “A Gata e o Rato” (1985-1989), série de Glenn Gordon Caron, que encantou uma geração.


Filme: No Lugar Errado
Direção: Mike Burns
Ano: 2022
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 7/10