A melhor comédia romântica de 2024, com Scarlett Johansson e Channing Tatum

A melhor comédia romântica de 2024, com Scarlett Johansson e Channing Tatum

No final dos anos 1960, a NASA sofre de um apagão administrativo, hidrogênio escapa dos tonéis, não há funcionários, os salários não são pagos em dia. Tudo parece num caos tão avassalador que só uma executiva de publicidade como Kelly Jones pode salvar a pátria, e aí que “Como Vender a Lua” decola. Sem prévio aviso, Kelly passa de vilã a heroína de um enredo assumidamente vesano, mas cheio de interseções com a História. Caso a ida de astronautas americanos à lua falhasse por algum motivo, ninguém menos que Stanley Kubrick (1928-1999) estaria a postos para concluir um filme realista o bastante para fazer o contribuinte acreditar que os Estados Unidos estavam mesmo na liderança da corrida espacial, depois de uma manobra tão ousada quanto cativante da União Soviética. Essa é uma das piadas de que o diretor Greg Berlanti lança mão ao longo de 132 minutos, provando que nem o mais bem-informado dos cidadãos sabe de tudo, tanto menos quando o assunto envolve as mais inimagináveis formas de poder.

Sem sorte não se chupa nem um Chicabon, disse Nelson Rodrigues (1912-1980) certa feita, e tanto menos se sai de cama e se enfrenta os perigos grandes e pequenos da vida como ela é na rua. Dissociar o homem de sua ganância, que por seu turno vem muitas vezes escondida sob o manto exuberante da natureza, é tarefa pretensiosa para qualquer filme, de modo que nem sempre bastam boa direção, elenco afinado e uma edição cuidadosa liquidam a fatura, em produções que acabam por testar a paciência do espectador. Todos já cruzamos com figuras que seduzem sem querer, que conseguem tudo quanto desejam com um sorriso, desmontando um semblante austero, resistente a princípio. O pavor do homem frente à decrepitude e ao fim da vida é presente na história da humanidade desde o princípio dos tempos. Talvez para nos inspirar a todos, fiéis ou não, o “Gênesis”, no Antigo Testamento bíblico, conta a história de Matusalém, patriarca da humanidade e avô do célebre Noé, que teria vivido 969 anos. 

Ninguém duvida que o intento das grandes potências seja mesmo o de tornar viável a seus povos alcançar muitos séculos de vida, e talvez a chave para tanto esteja fora daqui. A Kelly Jones de Scarlett Johansson encarna a perfeita vendedora de ilusões, pronta para dar nó em pingo d’água e engambelar qualquer um. Seu contraponto é Cole Davis, o supervisor de lançamentos vivido por Channing Tatum, um bonitão meio nerd descrente de tudo. O roteiro de Rose Gilroy dá corda para Johansson e Tatum, sem deixar de lado a farsa pseudocientífica sobre teorias da conspiração e outras miudezas, que hoje todos conhecemos e a que muita gente se dedica. Sendo meio cínico, um dia a lua também será nosso paraíso. E faremos lá todas as barbaridades que temos feito aqui.


Filme: Como Vender a Lua
Direção: Greg Berlanti
Ano: 2024
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 8/10