Ria e suspire por 110 minutos: obra-prima das comédias românticas com Kate Hudson e Matthew McConaughey na Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Ria e suspire por 110 minutos: obra-prima das comédias românticas com Kate Hudson e Matthew McConaughey na Netflix

A paixão nivela a humanidade por baixo. Inexplicavelmente, ficamos todos desnorteados, tolos, estúpidos quando o cupido faz das suas, e nem precisa ser conosco. Basta que alguém passe como se a um palmo do chão, com aquela cara de quem viu o tal passarinho verde (ou azul, ou rosa, a depender da preferência), que um contentamento pela alegria do outro se instala, fazendo mais tomados de amor os que já amam e meio invejosos aqueles que ainda encontraram a tampa da sua panela. Nada disso se encontra em “Como Perder um Homem em 10 Dias”, uma comédia romântica saborosamente zombeteira sobre os destemperos do sentimento amoroso e suas adjacências. 

Especialista no assunto, Donald Petrie conta a história não de um amor, mas da aposta de um publicitário mulherengo e da tentativa de autopromoção de uma jornalista meio descrente das boas intenções do sexo oposto. Junto com Kristen Buckley, Michelle Alexander e Jeannie Long adaptam seu livro homônimo, de 1998, emprestando ainda mais fôlego às situações quase delirantes que Petrie leva à tela, num jogo de gato e rato que tem tudo para não terminar bem no mundo real. No mundo real.

O desconhecido intriga e assombra o homem desde o princípio dos tempos. Já nas cavernas, os primeiros homo sapiens deixaram suas impressões acerca do que entendiam por romance, ainda que de um modo bastante hermético para os seres humanos deste insano século 21, sempre ávidos por respostas cristalinas para as dúvidas que sobrevivem a nós. O amor se nos revela não como esperamos, mas como ele pensa ser mais conveniente, não no momento em que a vida nos regala com a maturidade, mas nas curvas perigosas da estrada, quando temos a ilusão de conhecer bem o percurso. 

Essas aventuras, quase sempre tão ruinosas e tão comuns no legítimo sentimento amoroso, não deixam de ser um convite a loucura, e é aí que, paradoxalmente, “Como Perder um Homem em 10 Dias” começa a ficar bom. Ben Barry, o adorável cafajeste de Matthew McConaughey, convence o chefe de que pode seduzir qualquer mulher, e caso tenha sucesso na empreitada, estará à frente da campanha de uma joalheria de luxo e seus diamantes. Como o destino gosta de arreganhar seus dentes na primeira oportunidade, quem cruza seu caminho é Andie Anderson, a articulista mais virulenta de uma publicação à “Cosmopolitan” que, a exemplo de Ben, também enreda seu editor e o faz encarregá-la de provar que nenhum homem lhe resiste e, uma vez apaixonado, submete-se a toda sorte de humilhações, até receber um pé no traseiro uma semana e meia depois.

O diretor consegue fazer com que esses dois bicudos se beijem depois de um encontro fortuita num bar e uma sequência de lances nada cativantes, até escatológicos, brincando com as coincidências que os uniram. Aqui do outro lado, o espectador reconhece que já foi ou um Ben ou uma Andie, e por isso ninguém se sente ofendido. Como diz a voz cava das ruas, no amor e na guerra (e no esforço desesperado para manter e turbinar a carreira), vale tudo. 


Filme: Como Perder um Homem em 10 Dias
Direção: Donald Petrie
Ano: 2003
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 8/10