Brenda Chapman, a mente criativa por trás de clássicos inesquecíveis da Disney como “A Bela e a Fera”, “O Rei Leão” e “Valente”, fez sua estreia na direção de um live-action em 2020 com “Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos”. Chapman, trabalhando com o roteiro de Marissa Kate Goodhill, mergulhou nesse projeto ambicioso que une dois ícones da literatura infantil, Peter Pan e Alice, em uma narrativa única e encantadora.
No entanto, o filme enfrentou desafios significativos logo de início. O lançamento ocorreu em meio à pandemia de Covid-19, que impactou a indústria cinematográfica globalmente. Além disso, antes mesmo de chegar às telas, a produção foi alvo de ataques racistas por parte de usuários do IMDb, que coordenaram uma campanha de avaliações negativas. A razão? A escolha de retratar Peter e Alice como crianças negras, o que desagradou aqueles que insistem em visões limitadas e preconceituosas.
Em entrevistas, Chapman não escondeu sua decepção com os ataques. Ela expressou surpresa ao perceber que, em pleno século 21, o racismo ainda tinha força para influenciar a recepção de uma obra artística. Segundo Chapman, a decisão de escalar David Oyelowo, ator de imenso talento e experiência, não foi motivada por considerações políticas, mas sim pelo desejo genuíno de trabalhar com alguém de suas capacidades. Depois de alguns impasses, ela conseguiu trazê-lo para a produção, o que resultou em uma dinâmica criativa frutífera. Oyelowo, por sua vez, sugeriu a inclusão de Angelina Jolie, cuja experiência pessoal com uma família multirracial trouxe uma perspectiva única para o elenco.
O enredo de “Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos” centra-se na mágica infância e na capacidade inata das crianças de transformar realidades sombrias em mundos de fantasia e esperança. A história, ambientada no início do século 20, apresenta os irmãos David, Peter e Alice, filhos de Jack (interpretado por David Oyelowo) e Rose Littleton (Angelina Jolie), um casal interracial que vive em uma pitoresca casa à beira de uma floresta nos arredores de Londres. O ambiente é um refúgio de tranquilidade, onde os filhos podem explorar e expandir suas imaginações sem limites, mergulhando em brincadeiras que transcendem a realidade.
Entretanto, a tragédia atinge a família com a morte de David, o filho mais velho, que se afoga em um lago durante uma de suas aventuras. Esse evento devastador desestabiliza a família: Jack recai em antigos vícios de apostas, enquanto Rose sucumbe à depressão, encontrando alívio temporário no álcool. Diante do luto e do sofrimento dos pais, Peter e Alice buscam consolo e fuga em suas imaginações vívidas. Peter, em um esforço para escapar das responsabilidades e do peso da perda, sonha com os Garotos Perdidos da Terra do Nunca, um grupo de crianças que, como ele, se recusam a crescer. Ele se vê como líder desse grupo, explorando o poder do pó de fada e das aventuras sem fim. Alice, por outro lado, encontra refúgio em sua curiosidade insaciável, resolvendo enigmas e se aventurando em um mundo onde tudo é maior do que ela, uma clara alusão à toca do coelho.
A narrativa de “Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos” destaca a notável resiliência infantil. A capacidade das crianças de moldar suas realidades para suportar as dificuldades é um tema central. Peter e Alice transformam suas dores em combustível para a criatividade, criando mundos onde os desafios podem ser enfrentados com coragem e imaginação. Esse filme é um testemunho de como, através da imaginação, as crianças encontram maneiras de sobreviver e florescer, mesmo diante das circunstâncias mais difíceis.
Destinado a um público amplo, “Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos” oferece uma experiência comovente e rica em significados. É uma obra que promete emocionar espectadores de todas as idades, trazendo à tona questões de superação, família e a beleza eterna da imaginação infantil.
Filme: Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos
Direção: Brenda Chapman
Ano: 2020
Gênero: Drama/Fantasia/Aventura
Nota: 8/10
