Thriller policial assistido por 50 milhões de espectadores nos cinemas, na Netflix Divulgação / Universal Pictures

Thriller policial assistido por 50 milhões de espectadores nos cinemas, na Netflix

A habilidade de manter segredos pode salvar vidas, mas uma existência fundamentada em mistérios tem seu preço. O fascínio do segredo reside na escolha cuidadosa de o que e para quem revelar. No entanto, existem enigmas que transcendem qualquer controle, forçando sua revelação, independentemente da vontade do indivíduo. Esse é o cerne da narrativa de “Jason Bourne”, que, antes de se consolidar como um thriller policial, se apresenta como um intenso drama sobre os dilemas de identidade de um homem tentando compreender quem realmente é.

No desfecho dessa série icônica, Paul Greengrass retorna para revisitar as feridas não cicatrizadas do protagonista, uma tarefa que ele já havia abordado em dois filmes anteriores. Greengrass explora as complexidades de David Webb, a verdadeira identidade do agente secreto que, carregando um histórico de perdas e traumas, é assombrado por impulsos contraditórios. Em parceria com Christopher Rouse, e inspirado pelos romances de Robert Ludlum, Greengrass abre o filme com um breve flashback, relembrando elementos dos cinco longas-metragens anteriores, e estabelecendo um tom de alerta sobre as hostilidades do mundo, onde palavras e ações podem desencadear consequências devastadoras.

Nem mesmo Bourne está imune à crueldade disfarçada de aliados, seres que, como lobos em pele de cordeiro, espreitam em silêncio, prontos para atacar à primeira oportunidade, destroçando não só o corpo, mas também a dignidade. A jornada de Bourne já é um testemunho dessa travessia sombria.

Na introdução da série, “A Identidade Bourne” (2002), dirigida por Doug Liman, o anti-herói de Ludlum aparece retraído e inseguro, gradualmente aceitando que seu destino é errante e solitário, enfrentando conflitos esporádicos e sem vínculos. Agora, ele se encontra no inóspito deserto de Tsamantas, na divisa entre Grécia e Albânia, dependente do apoio de Nicky Parsons, interpretada por Julia Stiles, que gerencia a logística cibernética das suas operações.

Sem os artifícios glamorosos de James Bond, o Jason Bourne de Matt Damon encomendou a Nicky informações vitais sobre o projeto Treadstone, encabeçado por seu pai, Richard (Gregg Henry). Contudo, Robert Dewey, o astuto diretor da CIA interpretado por Tommy Lee Jones, parece obstinado em frustrar os planos de Bourne. Enquanto Rouse, também responsável pela edição de “Jason Bourne”, alterna as cenas para Langley, na Virgínia, a sede central da CIA, vemos a personagem Heather Lee, uma executiva de alto escalão, desesperar-se diante da invasão dos sistemas de informação da agência.

Antes de Greengrass deslocar sua narrativa por diversas cidades como Roma, Paris e Atenas, a atuação de Alicia Vikander se destaca em um papel claramente desenhado para complementar o protagonismo de Damon. Este último entrega uma performance consistente que reflete o desgaste do tempo sobre Bourne (ou David Webb), sugerindo que a era do personagem chegou ao fim. Mas, talvez, isso não seja necessariamente negativo.


Filme: Jason Bourne
Direção: Paul Greengrass
Ano: 2016
Gêneros: Drama/Thriller/Policial 
Nota: 8/10