31 dias no top 1 mundial: o filme da Netflix que permaneceu mais tempo no topo global Divulgação / Netflix

31 dias no top 1 mundial: o filme da Netflix que permaneceu mais tempo no topo global

“Resgate” (2020) apresenta os ingredientes necessários para uma narrativa de super-heróis bem construída: um conflito intrigante, personagens com papéis bem definidos e um protagonista que, embora não seja um super-herói, é um autêntico anti-herói. Desde o início, o filme dirigido por Sam Hargrove revela Chris Hemsworth em um estado deplorável, lutando não para vencer seus adversários, mas para simplesmente sobreviver. No entanto, a jornada de Tyler Rake ao longo da trama é surpreendentemente razoável, o que levanta a questão: o que poderia ter dado errado?

O roteiro de Joe Russo, co-diretor de “Vingadores: Ultimato” (2019), parece tentar reimaginar o papel dos heróis em histórias cinematográficas. Rake é um mercenário altamente treinado, especializado em situações extremas e resistente a influências externas — mas carrega consigo demônios internos que podem destruí-lo. Dotado de um aguçado senso de oportunidade e com um grave problema com bebidas e drogas, tanto lícitas quanto ilícitas, Rake se destaca em meio a cenas de violência extrema. A compensação prometida pelo trabalho deve ser significativa para justificar o risco e manter sua reputação.

A missão de Rake envolve resgatar Ovi Mahajan Jr., um jovem sequestrado por Amir, interpretado por Priyanshu Painyuli. O pai do garoto, Ovi Mahajan (Pankaj Tripathi), está preso e, portanto, impossibilitado de pagar o resgate devido à apreensão de seus fundos. Mesmo assim, o submundo, conhecido por sua estranha camaradagem, reúne o dinheiro para pagar pelos serviços de Rake, que é contratado por Nik Khan (Golshifteh Farahani), a gerente dos negócios do gângster. Endividado e pressionado por seu estilo de vida desregrado, Rake encara a missão como um jogo de tudo ou nada.

O uso de flashbacks na primeira metade do filme ajuda a construir a complexidade de Rake, que se distancia do herói convencional e apresenta uma vulnerabilidade que o torna mais realista e menos previsível. Seu instinto paternal, embora disfarçado, emerge com força quando a missão enfrenta obstáculos imprevistos, levando-o a considerar que a tarefa pode ser uma armadilha. A luta de um justiceiro independente, embora interessante, é complicada por seu próprio contexto.

O roteiro, escrito por Russo, é dinâmico, mas o excesso de personagens e arcos não resolvidos acaba resultando em soluções simplistas e pouco convincentes. Um exemplo notável é a aparição de Gaspar, interpretado por David Harbour, que menciona que Rake lhe salvou a vida em um momento não detalhado, o que deixa uma sensação de desconexão. A trama se desvia frequentemente para abordagens secundárias, o que enfraquece o clímax, que se arrasta além do necessário. Apesar do humor involuntário e rabugento de Rake, “Resgate” carece de momentos leves ou interações sedutoras entre ele e Khan.

A violência constante é uma marca registrada de filmes de ação que não envelhece, destacando o trabalho de Hargrove e Russo. A relação entre Rudhraksh Jaiswal e Chris Hemsworth ajuda a suavizar qualquer crítica sobre possíveis conotações racistas do filme, visto que um homem branco lidera a missão de salvar um menino não-branco de criminosos variados. Para aqueles que optam por ignorar tais questões subjacentes, a carnificina de “Resgate” é apresentada de forma direta e contundente.


Filme: Resgate
Direção: Sam Hargrove
Ano: 2020
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 8/10