A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) permanece um repositório inesgotável de narrativas, muitas delas sombrias, mas também permeadas por histórias intrigantes e, ocasionalmente, cômicas, que envolvem tanto os vilões quanto os heróis que emergiram dessa época de conflito. “Guerra sem Regras” é mais um exemplo de como os acontecimentos históricos podem ser reimaginados e reinterpretados, desta vez sob a visão particular de Guy Ritchie.
O roteiro de Ritchie, ao mesmo tempo vibrante e cheio de contradições, foi coescrito com Arash Amel, Eric Johnson e Paul Tamasy, e se baseia em parte nos argumentos apresentados pelo ex-repórter de guerra britânico Damien Lewis em seu livro de 2014, “Churchill’s Secret Warriors: The Explosive True Story of the Special Forces Desperadoes of World War II” (“Guerreiros secretos de Churchill: a explosiva história real dos desesperados das Forças Especiais da Segunda Guerra Mundial”, em tradução literal). O filme, entretanto, também faz referência ao livro de 2015 de Giles Milton, “The Ministry of Ungentlemanly Warfare — Churchill’s Mavericks: Plotting Hitler’s Defeat” (“O ministério da Guerra descortês — os rebeldes de Churchill: tramando a derrota de Hitler”, em tradução literal), a partir do qual o título original do filme é derivado.
Para desfrutar plenamente da experiência proporcionada por “Guerra sem Regras”, o espectador deve se permitir embarcar na fantasia orquestrada por Ritchie e seus colaboradores, aceitando certas liberdades cronológicas, como a suposição de que, em janeiro de 1942, a ofensiva a Pearl Harbor ainda não havia ocorrido — algo que, como se sabe, aconteceu em 7 de dezembro de 1941. Assim, a exigência de precisão histórica neste caso se torna secundária.
Uma das cenas iniciais do filme apresenta Winston Churchill, interpretado por Rory Kinnear, transmitindo uma mensagem de rádio para um esquadrão de soldados liderados por Gus March-Phillips, um oficial da reserva do Exército britânico, empenhado em caçar nazistas de forma implacável. Ao lado de March-Phillips estão Freddy Alvarez, especialista em explosivos interpretado por Henry Golding; o sueco Anders Lassen, um mestre em combate corpo a corpo vivido por Alan Richson; e Geoffrey Appleyard, um faz-tudo sombrio interpretado por Alex Pettyfer. A missão deles é alcançar Fernando Pó (atualmente Bioko), uma ilha no Golfo da Guiné, onde está ancorado um navio abastecedor dos submarinos de Hitler. Para garantir o sucesso da operação, a equipe recebe o apoio de Marjorie Stewart, uma espiã judia cuja família foi vítima do Terceiro Reich, e Richard Heron, um nigeriano que se passa por dono de um bar-cassino na ilha.
Vale ressaltar que o filme não pretende ser uma obra de rigor histórico. O objetivo aqui é entreter, e nesse aspecto, o núcleo formado por March-Phillips, interpretado por um dedicado Henry Cavill, compete por atenção com os personagens de Eiza Gonzalez e Babs Olusanmokun. Quando “Guerra sem Regras” começa a lembrar filmes como “Bastardos Inglórios” (2009), de Quentin Tarantino, ou “Os Doze Condenados” (1967), dirigido por Robert Aldrich, Ritchie não hesita em subverter expectativas. Em uma das sequências mais ousadas, Stewart e o general nazista, interpretado com maestria por Til Schweiger, cantam juntos “The Threepenny Opera” (1928), de Kurt Weill e Bertolt Brecht, uma obra impregnada de crítica social, cujos criadores foram perseguidos e exilados da Alemanha nazista. No final das contas, a mensagem é clara: os heróis são exaltados, enquanto os nazistas encontram seu destino inevitável.
Filme: Guerra sem Regras
Direção: Guy Ritchie
Ano: 2024
Gêneros: Ação/Comédia
Nota: 8/10