O melhor filme de terror dos últimos 6 anos, assinado por Robert Eggers, na Netflix Foto: Divulgação / Netflix

O melhor filme de terror dos últimos 6 anos, assinado por Robert Eggers, na Netflix

Há três cineastas que se destacaram na última década no horror, revolucionando o gênero e tornando-o mais inteligente, profundo e significativo. Mais que meros “jump scares”, o horror assusta quando traz verdades sombrias e impronunciáveis. Eu falo de Jordan Peele, Ari Aster e Robert Eggers.

Eggers tem hoje apenas 40 anos de idade. Sua estreia em um longa-metragem foi um verdadeiro soco no estômago. “A Bruxa”, de 2015, é um espetáculo assustador e claustrofóbico de tensão crescente. Não parece ter sido feito por um estreante; pelo contrário, sua construção é tão sisuda e segura que parece ter vindo de um veterano do gênero. Após esse rompante triunfal na direção de longas-metragens, ele trouxe o genial “O Farol” e “O Homem do Norte”.

A carreira de Eggers começou no teatro, como designer de produção. Provavelmente, essa experiência lhe proporcionou um estilo visual único e autêntico. Suas características incluem iluminação natural, diálogos arcaicos, estética minuciosa e reconstituições históricas. Para isso, ele faz um estudo profundo de livros e documentos. Essas informações não apenas embasam seus roteiros, mas também lhe dão uma perfeita noção de como as coisas funcionavam, como eram as roupas e a ambientação.

Em “A Bruxa”, de 2015, o enredo gira em torno de uma família religiosa que mora em uma fazenda isolada próxima de uma floresta. A história se passa em 1630, na Nova Inglaterra.

William (Ralph Ineson) é marido de Katherine (Kate Dickie), com quem tem cinco filhos: a adolescente Thomasin (Anya Taylor-Joy), Caleb (Harvey Scrimshaw), os gêmeos Mercy e Jonas (Ellie Grainger e Lucas Dawson), além de um bebê.

Acontecimentos estranhos começam a se desenrolar após o sumiço do bebê da família, quando este estava sob os cuidados de Thomasin. Então, forças sobrenaturais passam a agir na floresta e na casa da família. Os gêmeos parecem se comunicar com o bode da fazenda. Os animais ficam agitados na floresta, e Caleb desaparece no meio da natureza, ressurgindo dias depois, doente.

Thomasin passa a ser vista pelos pais como uma bruxa, que a culpam pelos mistérios que acontecem no lugar, embora ela reafirme sua inocência.

Robert Eggers brinca com a imaginação dos espectadores, deixando questões no ar. Por exemplo, o que é real e o que é fruto da imaginação deles? Afinal, a família é fanática religiosa e vive sob esse manto de puritanismo que os impede de observar as situações de forma racional.

Além disso, o isolamento parece mexer com a sanidade da família, que se sente cada vez mais paranoica, psicótica e castigada por Deus e por forças sobrenaturais. Thomasin é uma presa fácil, afinal, está se tornando mulher. Nesses tempos, era comum culpar mulheres que estavam com sua sexualidade florescendo, já que a independência e a sexualidade femininas eram sempre uma ameaça.

Embora não mostre nenhum monstro ou ameaça real, Eggers consegue criar um clima de medo e tensão crescente no espectador, não pelo que está acontecendo naquele momento, mas pela iminência de algo terrível acontecer.

Um dos melhores filmes de terror dos últimos 10 anos, “A Bruxa” é definitivamente um tesouro do cinema.


Filme: A Bruxa
Direção: Robert Eggers
Ano: 2018
Gênero: Terror
Nota: 10