História de amor na Netflix foi assistida por 50 milhões de espectadores na semana de estreia Divulgação / Netflix

História de amor na Netflix foi assistida por 50 milhões de espectadores na semana de estreia

Viver um amor que permeia os detalhes mais sutis do cotidiano, tingindo-os com uma sensação de eternidade, é um privilégio raro. Ignorar tal experiência seria uma forma de crueldade. Elizabeth Allen Rosenbaum, em seu filme “Continência ao Amor”, presta uma homenagem modesta, mas sincera, ao mais profundo dos sentimentos humanos, aquele que, quando autêntico, possui um poder quase redentor capaz de neutralizar todo o mal existente, por meio de sua essência naturalmente curativa.

A diretora recorre a uma ideia antiga, porém eternamente eficaz — a do amor que triunfa mesmo em meio ao caos da guerra. Essa premissa fundamenta as ações de seus protagonistas ao longo da narrativa, uma adaptação do livro homônimo de Tess Wakefield. Desde os primeiros momentos da trama, transportada para a tela a partir do roteiro de Kyle Jarrow e Liz W. Garcia, fica claro o intuito de Rosenbaum de capturar a natureza incipiente e frágil do amor descrito por Wakefield.

Esse amor, no início, é tão inconsistente quanto um ser recém-nascido, frágil e dependente, que parece prestes a desintegrar-se nas mãos de quem o vê como um incômodo ou um desvio arriscado dos padrões, ainda que seja cativante e envolvente em suas complexidades e encantos.

Sofia Carson, conhecida por seu trabalho com a Disney, assume o papel de Cassandra, ou Cassie, uma jovem cantora e atriz que incorpora a clássica figura da “material girl”. Cassie é audaciosa, determinada a conquistar um lugar de destaque no mundo da música, e, ao mesmo tempo, mantém um emprego como garçonete em um pub em Austin, Texas. Essa dualidade de sua personalidade remete a heroínas de clássicos como “Uma Secretária de Futuro” (1988), de Mike Nichols. Sua trajetória é marcada por uma competitividade quase venenosa, típica de quem luta por um espaço de relevância.

No entanto, sua ambição é abalada ao descobrir que sofre de um tipo agressivo de diabetes, cuja medicação é cara e acaba se tornando insustentável. Lutando para cobrir despesas básicas como aluguel e, eventualmente, os próprios remédios, Cassie percebe que os militares em serviço de guerra possuem acesso a um seguro saúde especial. Esse insight a leva a fazer uma proposta a um amigo, interpretado por Chosen Jacobs, que, no entanto, a recusa.

O destino a coloca frente a Luke, um fuzileiro naval interpretado por Nicholas Galitzine, que, por sua vez, está à procura de uma solução para suas próprias dificuldades financeiras. Luke se oferece para casar com Cassie, não por altruísmo, mas como um meio de obter um benefício destinado a militares recém-casados. Com uma missão no Iraque se aproximando, Luke precisa quitar uma dívida considerável antes de partir, sob o risco de expor sua família a sérios perigos.

O filme sugere, de forma sutil, que seus personagens estão longe de serem idealizados ou moralmente perfeitos. Esse tom levemente inquietante evoca a complexidade dos relacionamentos reais, que podem descambar para conflitos físicos ou psicológicos intensos, lembrando, em certa medida, o ambiente conturbado retratado no clássico “Uma Mulher sob Influência” (1974), dirigido por John Cassavetes.

No entanto, ao contrário do filme de Cassavetes, que explora a disfunção de forma mais visceral e com uma intensidade dramática característica, “Continência ao Amor” mantém-se fiel ao formato de uma narrativa romântica, onde os desafios enfrentados por Cassie e Luke são trabalhados de maneira a garantir um desfecho satisfatório.

O filme não aspira ao brilho ou à complexidade dos grandes dramas, e nem precisa. Ele cumpre sua proposta de contar uma história de amor, repleta de obstáculos e incertezas, de forma eficaz e envolvente. Isso, em última análise, é o suficiente para cumprir sua missão.


Filme: Continência ao Amor
Direção: Elizabeth Allen Rosenbaum
Ano: 2022
Gênero: Romance/Drama
Nota: 7/10