Indicada a 116 prêmios, incluindo 2 Oscars, obra-prima de Steven Spielberg, com Tom Hanks e Meryl Streep, na Netflix Divulgação / 20th Century Fox

Indicada a 116 prêmios, incluindo 2 Oscars, obra-prima de Steven Spielberg, com Tom Hanks e Meryl Streep, na Netflix

A rivalidade entre os meios de comunicação é uma característica intrínseca do jornalismo, presente desde os primórdios da imprensa, há pelo menos quatro séculos. Desde então, o jornalismo tem desempenhado um papel crucial na sociedade, não apenas na disseminação de informações, mas também na construção de narrativas e na fiscalização do poder, influenciando decisivamente os rumos políticos de diversas nações. Sem a presença de uma imprensa ativa e vigilante, o mundo certamente se encontraria em uma posição de escuridão, desinformação e atraso histórico.

No contexto jornalístico, o furo de reportagem é a peça central que impulsiona os veículos de comunicação. Embora relatar acontecimentos seja essencial, fazê-lo em primeira mão é o que realmente molda a história. Esse tema é magistralmente explorado no filme “The Post: A Guerra Secreta”, de Steven Spielberg, disponível na Netflix. O longa narra um episódio real da tentativa do governo dos Estados Unidos de suprimir a liberdade de imprensa após a revelação de segredos contidos em documentos do Pentágono.

A narrativa começa com Daniel Ellsberg, um analista militar, que entrega ao jornal The New York Times documentos secretos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Esses documentos expõem detalhes comprometedores sobre operações e informações confidenciais referentes à Guerra do Vietnã. A publicação dessas revelações leva o governo a intervir, e uma ordem judicial impede o jornal de continuar divulgando os fatos, sob a alegação de que a divulgação poderia ameaçar a segurança nacional, sendo considerada uma forma de conspiração.

Diante da censura, o The New York Times é forçado a interromper a série de reportagens. Contudo, em um ato de coragem, Ben Bradlee (interpretado por Tom Hanks), editor executivo do The Washington Post, e Kay Graham (Meryl Streep), a diretora executiva que herdou o jornal de sua família, decidem dar continuidade à publicação dos documentos. Essa ousada decisão coloca ambos os jornais, inicialmente concorrentes, em uma posição de coadjuvantes na mesma batalha, levando o caso ao julgamento da Suprema Corte dos Estados Unidos.

A ambientação do filme, capturando a estética dos anos 70, é um dos elementos de destaque. A fotografia, dirigida por Janusz Kaminski, colaborador habitual de Spielberg e vencedor de dois Oscars por “A Lista de Schindler” e “O Resgate do Soldado Ryan”, é notável por sua predominância de cores neutras, pontuada por estratégicos jogos de luz que intensificam a tensão e o suspense em momentos-chave. Os enquadramentos são cuidadosamente pensados para acentuar a urgência da narrativa, utilizando closes e molduras que destacam personagens e suas emoções, enquanto movimentos de câmera como panoramas e travellings conferem dinamismo às cenas.

O roteiro, assinado por Liz Hannah e Josh Singer, é carregado de intensidade dramática. No entanto, o que poderia resvalar no sensacionalismo é equilibrado pela atuação excepcional de um elenco estelar, que inclui, além de Hanks e Streep, nomes como Sarah Paulson, Bob Odenkirk, Tracy Letts, Bradley Whitford, Bruce Greenwood, Jesse Plemons, Matthew Rhys, entre outros.

O filme foi produzido, gravado e editado em um período notavelmente curto de apenas nove meses, tudo durante o ano de 2017. Essa rapidez se deve à urgência de Steven Spielberg em lançar o filme em um momento em que as discussões sobre fake news estavam particularmente em voga. A abordagem ágil e coerente de Spielberg resulta em mais uma adição notável ao seu impressionante repertório de obras cinematográficas.


Filme: The Post: A Guerra Secreta
Direção: Steven Spielberg
Ano: 2017
Gênero: Biografia/Drama/História
Nota: 9/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.