No vasto universo dos filmes de ação, “A Liga” surge como uma produção que, embora à primeira vista pareça seguir a fórmula tradicional do gênero, oferece algo mais valioso: a combinação rara de charme, talento e química entre Halle Berry e Mark Wahlberg. Essa dupla de astros veteranos leva o público a uma experiência que vai além das explosões e tiroteios típicos, tocando em temas mais profundos de reencontro e redenção.
O enredo central de “A Liga” gira em torno de Roxanne, uma agente experiente de uma organização secreta, interpretada com maestria por Halle Berry, que decide envolver seu antigo amor, Mike, vivido por Wahlberg, em uma missão de alta periculosidade. Após um encontro aparentemente fortuito em um bar, Mike se vê em Londres, sem memória das últimas horas e diante de uma escolha que poderá mudar o rumo de sua vida: voltar para sua rotina monótona ou embarcar em uma nova e arriscada jornada ao lado de Roxanne.
Embora a trama possa parecer previsível à primeira vista, com a típica missão para salvar o mundo de uma ameaça iminente, o que realmente prende a atenção do espectador é a relação complexa e não resolvida entre os protagonistas. Há uma tensão palpável nas cenas que compartilham, resultado de décadas de separação e de questões mal resolvidas que ainda os atormentam. Essas interações são o ponto alto do filme, proporcionando momentos de verdadeira conexão emocional que raramente são vistos em filmes de ação.
A direção do filme opta por explorar essa dinâmica pessoal em meio ao caos das perseguições e lutas, criando um equilíbrio entre a adrenalina das cenas de ação e a introspecção necessária para desenvolver personagens tridimensionais. Halle Berry, em especial, mostra uma profundidade em sua atuação que transcende os limites do roteiro, trazendo à tona um carisma que foi muitas vezes subestimado em papéis anteriores. Sua performance, juntamente com a de Wahlberg, eleva “A Liga” a um patamar onde a ação é apenas o pano de fundo para uma história sobre escolhas, arrependimentos e segundas chances.
O filme desafia as expectativas ao apresentar personagens que, apesar da idade, ainda têm muito a oferecer em termos de energia e relevância. Não se trata apenas de um casal se reencontrando após anos, mas de duas pessoas que enfrentam o envelhecimento e as mudanças que ele traz, tanto pessoalmente quanto em suas carreiras. A narrativa reflete sobre o que significa crescer em um mundo que muitas vezes é implacável com o passado, oferecendo ao público uma reflexão que vai além do entretenimento puro e simples.
O cenário das missões, que percorre cidades como Trieste, Londres e Ístria, é capturado com uma precisão que destaca tanto a beleza das locações quanto o contraste com as vidas turbulentas dos personagens. As cenas de ação, embora intensas, são filmadas de maneira a nunca ofuscar o desenvolvimento dos personagens, mas sim a complementar a história que se desenrola.
Em última análise, “A Liga” não se contenta em ser apenas mais um filme de ação. Ele busca e, em grande parte, consegue ser uma exploração do reencontro humano, embalado em uma narrativa que, embora familiar, é executada com uma frescura surpreendente. A química entre Berry e Wahlberg, aliada à direção focada em personagens, cria uma experiência cinematográfica que ressoa tanto no coração quanto na mente do espectador. Ao evitar os clichês mais desgastados do gênero e se concentrar no que realmente importa — as pessoas e suas histórias — o filme oferece um entretenimento que é, ao mesmo tempo, envolvente e emocionalmente satisfatório.
Com um equilíbrio quase perfeito entre ação e emoção, e performances que verdadeiramente se destacam, “A Liga”se estabelece como um dos melhores exemplos recentes de como o cinema de ação pode ser elevado quando há um foco genuíno no desenvolvimento dos personagens. É um filme que merece ser visto, não apenas pelas cenas de ação, mas pelo coração pulsante que seus protagonistas trazem à tela.
Filme: A Liga
Direção: Julian Farino
Ano: 2024
Gêneros: Comédia/Ação/Policial
Nota: 8/10