Filme baseado em história real desesperadora de um dos piores atentados terroristas dos últimos 20 anos, na Netflix Kerry Monteen / Screen Australia/Allstar

Filme baseado em história real desesperadora de um dos piores atentados terroristas dos últimos 20 anos, na Netflix

A trágica saga do terrorismo islâmico não teve início no fatídico 11 de setembro de 2001, quando o mundo testemunhou o ataque devastador às torres gêmeas do World Trade Center, um dos maiores símbolos do poder econômico dos Estados Unidos. O atentado, arquitetado por Osama bin Laden (1957-2011), ex-aliado dos americanos, que mais tarde seria abatido em uma operação militar americana no Paquistão, após uma década de buscas e tentativas frustradas, foi um marco que fez com que o terrorismo internacional ganhasse uma visibilidade sem precedentes.

Entretanto, a destruição dos imponentes arranha-céus de Lower Manhattan não foi o primeiro, nem o último ato de violência extremista perpetrado em nome de uma distorcida interpretação religiosa. O sucesso da missão, do ponto de vista dos terroristas, encorajou grupos radicais ao redor do globo a emergirem de seus esconderijos e intensificarem ataques brutais, como o que aconteceu em 26 de novembro de 2008, quando nove homens armados avançaram sobre os hóspedes do luxuoso Hotel Taj Mahal em Mumbai, após semearem terror na estação ferroviária de Chhatrapati Shivaji.

O filme “Atentado ao Hotel Taj Mahal”, dirigido pelo australiano Anthony Maras, retrata com precisão o horror daquele dia, em que 167 pessoas, entre hóspedes, funcionários e até mesmo os jovens terroristas, perderam a vida, enquanto outras 327 ficaram feridas. Maras, junto com o co-roteirista John Collee, constrói uma narrativa impactante, que começa com a chegada dos terroristas a Mumbai pelo poluído rio Ulhas e, em seguida, mergulha o espectador em cenas de violência explícita, quase sensacionalista, que não poupam detalhes na recriação do caos. A fotografia sombria de Nick Remy Matthews complementa essa abordagem, contribuindo para a atmosfera opressiva que perpassa o filme.

Maras, ao dirigir “Atentado ao Hotel Taj Mahal”, coloca-se ao lado de cineastas como Paul Greengrass e Kathryn Bigelow na representação cinematográfica de atrocidades terroristas. Filmes como “Voo United 93” (2006) e “22 de Julho” (2018), de Greengrass, e “Guerra ao Terror” (2008) e “A Hora Mais Escura” (2012), de Bigelow, também exploram essa temática, extraindo de cada cena a gravidade sombria dos eventos, ao mesmo tempo em que homenageiam os heróis anônimos que, contra todas as probabilidades, agiram para minimizar a carnificina e preservar a dignidade das vítimas.

No enredo de Maras, dois personagens se destacam: o garçom Arjun e o chef Hemant Oberoi, interpretados por Dev Patel e Anupam Kher. Até então em lados opostos na hierarquia do hotel, com objetivos distintos e até mesmo rivalidades, eles deixam de lado suas diferenças para unir forças em uma luta desesperada e instintiva pela sobrevivência, guiando quase duas centenas de reféns através do inferno que se instalara no Taj Mahal. A atuação dos dois atores transcende o mero relato de fatos, inserindo momentos de humanidade e empatia em meio ao caos, e em breves pausas de respiro dramático, o filme toca em uma dimensão quase poética, onde a união se torna a única esperança de sobrevivência.

O longa-metragem se equilibra em uma linha tênue entre o desespero e a resiliência, provocando o espectador a se perguntar: o que eu faria em uma situação semelhante? Essa questão, deixada em aberto, ressoa na mente muito depois do término do filme, tornando “Atentado ao Hotel Taj Mahal” uma reflexão perturbadora sobre a fragilidade da vida e a brutalidade do fanatismo.


Filme: Atentado ao Hotel Taj Mahal 
Direção: Anthony Maras 
Ano: 2018 
Gêneros: Thriller/Ação 
Nota: 8/10