Muito se fala sobre a liberdade. Sempre pensei que o sujeito livre era aquele que tinha a capacidade de sair da zona de conforto, de fugir do óbvio, que era macho o bastante para se esquivar do rebanho e se aventurar pelo desconhecido. Eu, que tenho alma de pássaro, nem sempre consegui voar além da periferia das minhas prisões.
Na infância, era preciso obedecer aos mais velhos, respeitar os horários, cumprir com os deveres. Meu maior sonho era crescer e ganhar autonomia, e foi assim que tanto quis ser livre, para depois me ver confinada às minhas escolhas prematuras. A profissão definida cedo demais, os incontáveis carnês de prestações, a carreira, o casamento na igreja, os filhos. Os anos nos forçam a seguir um manual de felicidade generalizado no qual só se obtém sucesso criando vínculos. Não importa “ser feliz de mentirinha” se você tem um bom emprego, um marido, um carro, um apartamento e, obviamente, posta tudo isso nas redes sociais.
Ser livre é uma forma de autenticidade. É ser você mesmo e não perder o sono por causa disso. É mudar de opinião, de rumo, e voltar atrás quando bem entender. Ou nunca mais regressar. Liberdade é transar quando quer. Na maturidade, não. Você não transa quando não está a fim. E ponto final. Não existe lugar melhor no mundo que a própria casa, não há cama melhor do que a sua. Nunca um pijama vestiu tão bem. Seus filmes e livros são melhores companhias do que muita gente. Balada nem pensar, só se for o aniversário da melhor amiga. E olhe lá.
Mas diferente do que muita gente pensa, nem todos os passarinhos são felizes. Juventude e liberdade não são pré-requisitos para se tornar um afortunado. Só o tempo e os ventos nos trazem o verdadeiro sentido do amadurecimento, da libertação e da plenitude. Passamos a nos conhecer mais profundamente e a liberdade perde o sentido de fuga, ganhando conotação de livre arbítrio. Maduro é aquele que decide ficar por espontânea vontade, que não precisa seguir um paradigma, que encontra a verdadeira felicidade na singeleza da vida.
Portanto, para ser feliz não é necessário criar vínculo e para ser livre não há de ser irresponsável. Já dizia Fernando Sabino que a “liberdade é o espaço que a felicidade precisa”. Para ser feliz não existe idade, não existe fórmula, basta ser livre. Para ser livre, primeiro é preciso crescer, e para crescer é imprescindível viver. Mais dia, menos dia, a felicidade chega, a liberdade fica e a maturidade assenta.