O filme que originou o triângulo amoroso mais famoso de Hollywood: Bruce Willis, Kim Basinger e Demi Moore, no Prime Video Divulgação / Touchstone Pictures

O filme que originou o triângulo amoroso mais famoso de Hollywood: Bruce Willis, Kim Basinger e Demi Moore, no Prime Video

Por quarenta anos, a sensibilidade bastante idiossincrásica de Blake Edwards (1922-2010) pautou o cinema. O diretor conseguia unir reflexões sobre assuntos os mais diversos a um jeito leve e gracioso de emitir seu ponto de vista, o que não quer dizer que fizesse concessões quando achava que era necessário dar às coisas seus verdadeiros nomes. É o que acontece também em “Encontro às Escuras”, um conto de fadas pós-moderno (e bizarro) sobre o amor romântico e sua natureza mais escatológica. Para que ninguém refute o longa de saída, Edwards vai nos distraindo com a história de um sujeito que parece saber que sua vida está meio cinzenta, um tanto burocrática, mas vai se deixando levar, talvez à espera de um milagre. Bem, não é exatamente uma intervenção do sagrado o que o arrasta, mas ele não deixa de experimentar uma transformação que decerto tem sua porção divina.

Walter Davis ficara até as três da madrugada no escritório e de manhã cedo já estava de volta ao batente, esmerando-se na apresentação para um certo senhor Yakamoto, um megaempresário japonês interessado em se tornar sócio de seus chefes. Walter precisa de uma companhia feminina para ir com ele ao jantar que pode subir em alguns milhões de dólares o faturamento, e Ted, o irmão vivido por Phil Hartman, lhe indica Nadia Gates, uma loira para quatrocentos talheres, bem-nascida e solteira que, como se vai assistir, sofre de um distúrbio e de um trauma  que passam a ter lugar central na narrativa. Enquanto o pior não acontece, Walter e Nadia aproveitam para quebrar o gelo numa exposição de arte contemporânea duvidosa (seria um pleonasmo?), pornográfica até, trocando amenidades e sorrisos, para na sequência os problemas desabarem de uma vez sobre a cabeça do rapaz. Uma taça de champanhe é o suficiente para tirá-la do eixo, e como desgraça pouca é bobagem, o ex-namorado maníaco de Nadia irrompe, reivindicando a posse sobre a garota.

Edwards e os corroteiristas Leslie Dixon e Dale Launer são rápidos em verter um possível romance numa comédia de erros vigorosa, incansável, amparada no talento e na afinidade entre Bruce Willis e Kim Basinger, muito confortáveis em papéis que seriam a antítese do que lhes fariam reconhecidos em Hollywood. No caso de Willis, quando do lançamento do filme ele ainda era a estrela de “A Gata e o Rato” (1985-1989), a memorável série de televisão idealizada por Glenn Gordon Caron, e ninguém duvida que isso proporcionou-lhe uma grande vantagem em sua nova composição.

Basingeracha o justo equilíbrio entre a caricatura e a beleza torta de uma mulher subjugada por um parceiro mentalmente débil, e nesse ponto, o David Bedford de John Larroquette vira um enredo à parte. “Encontro às Escuras” é um trabalho comum, mas surpreendente, de um cineasta como se vê mais.


Filme: Encontro às Escuras
Direção: Blake Edwards
Ano: 1987
Gêneros: Romance/Comédia 
Nota: 8/10