Indicado a 3 Oscars, filme com Kevin Spacey levou 36 milhões de espectadores aos cinemas e está na Netflix Divulgação / Sony Pictures

Indicado a 3 Oscars, filme com Kevin Spacey levou 36 milhões de espectadores aos cinemas e está na Netflix

Em filmes onde a velocidade e os motores ocupam um lugar central, protagonistas cativantes não são apenas bem-vindos, são essenciais. Em “Em Ritmo de Fuga”, o protagonista, Baby, é um jovem que se vê envolvido no mundo do crime, mas o faz sem buscar justificativas para suas ações. Ele é um criminoso que, por acaso, tem uma deficiência auditiva, mas que enxerga essa condição como um detalhe insignificante. Baby, apesar de sua limitação, ouve tudo ao seu redor, tanto literal quanto figurativamente.

Edgar Wright, o diretor, constrói Baby como um anti-herói que, apesar de sua vida repleta de crimes, cativa o público com seu jeito despretensioso. Esse efeito é amplificado pela atuação de Ansel Elgort, que dá vida ao personagem com uma mistura de ingenuidade e profundidade. Elgort consegue convencer o espectador de que, por trás de sua aparência inocente, existe uma alma profundamente marcada por traumas. A química entre Elgort e Wright é evidente, especialmente nas cenas em que Baby interage com outros personagens, como Debora, interpretada por Lily James. A partir do momento em que Debora entra em cena, a trama ganha um novo foco, e a relação entre os dois se torna o centro das atenções.

Baby, marcado por experiências difíceis, desenvolveu uma habilidade extraordinária para dirigir em situações extremas. Essa capacidade é explorada em seu trabalho como motorista de fuga para uma gangue de assaltantes liderada por Doc, personagem vivido por Kevin Spacey. Doc é o cérebro por trás dos roubos, e Baby, com sua destreza ao volante, é peça-chave nos planos do grupo. O personagem de Elgort utiliza a música como uma forma de lidar com o constante zumbido em seus ouvidos, consequência de um acidente que mudou sua vida. Para ele, a música não é apenas uma trilha sonora, mas uma maneira de impor ritmo e sentido à sua existência caótica.

Logo no início do filme, enquanto a gangue de Doc realiza um assalto, Baby permanece no carro, imerso na música de “Bellbottoms”, do Jon Spencer Blues Explosion. Essa cena é um prelúdio para o ritmo frenético que dominará o restante do filme. As sequências de perseguição, dirigidas com maestria por Wright, são um dos pontos altos do longa, destacando-se pela combinação perfeita entre ação e trilha sonora. A música não apenas acompanha a narrativa; ela é parte intrínseca da história, influenciando as ações e as emoções dos personagens.

A escolha de Wright de integrar a música tão profundamente à estrutura do filme poderia sugerir que o som tem mais importância que a própria trama, mas isso está longe de ser verdade. A ação permanece intensa e bem executada até o desfecho, que traz uma reviravolta inesperada para o arco de Baby e Debora. Até lá, Baby continua sendo forçado a participar dos assaltos cada vez mais arriscados de Doc, devido a uma dívida que precisa pagar. A personagem de Lily James representa a esperança de uma vida diferente, mais simples e menos violenta, uma vida que Baby deseja desesperadamente. No entanto, como costuma acontecer em histórias desse tipo, uma vez que se entra no mundo do crime, é quase impossível sair.

Comparar “Em Ritmo de Fuga” com outros filmes do gênero é inevitável. “Drive” (2011), dirigido por Nicolas Winding Refn, é uma clara referência para Wright, especialmente na maneira como os personagens principais são explorados e em como lidam com seus relacionamentos. Tanto Baby quanto o protagonista de “Drive”, interpretado por Ryan Gosling, são jovens que enfrentaram situações extremas e que usam suas habilidades ao volante para sobreviver em um mundo dominado pelo crime. Wright, no entanto, dá um toque único ao seu filme, utilizando a música como uma forma de aliviar a angústia existencial de Baby e seu desejo de evitar se tornar um marginal.

“Em Ritmo de Fuga” possui uma atmosfera que, em alguns momentos, lembra o cinema noir, com uma narrativa que sugere que o destino é algo traiçoeiro, pronto para atacar a qualquer momento. Baby, mesmo sem perceber, absorve essa lição e luta internamente para não ceder ao desespero. O filme é um exemplo de como roteiro, direção e elenco podem se alinhar para criar uma obra que, embora inserida em um gênero específico, se destaca pela originalidade e pelo cuidado em cada detalhe.

No entanto, o grande número de atores de peso no elenco acaba resultando em alguns desperdícios, como as atuações de Jamie Foxx e Jon Hamm, que, apesar de competentes, poderiam ter sido mais exploradas. Ainda assim, o filme mantém seu apelo, seja no cinema ou no conforto de casa, e nos lembra por que continuamos a nos encantar com boas histórias e performances envolventes. Assim como Baby, resistimos às dificuldades, buscando sentido e redenção em meio ao caos.


Filme: Em Ritmo de Fuga
Direção: Edgar Wright
Ano: 2017
Gênero: Ação/Romance
Nota: 9/10