Obra-prima do terror, filme de Robert Eggers indicado a 72 prêmios está na Netflix Divulgação / Universal Pictures

Obra-prima do terror, filme de Robert Eggers indicado a 72 prêmios está na Netflix

O desenvolvimento humano sempre esteve atrelado à busca por pertencimento e à criação de regras para sustentar esse vínculo social. Os contos de fadas, frequentemente, servem como alertas sobre as consequências de transgressões a esses códigos. “A Bruxa” (2015), dirigido por Robert Eggers, utiliza o desejo perene de liberdade feminina para explorar a desintegração de uma família na América do século 17, causada justamente por essa ambição considerada perigosa.

O filme recorre a sermões que, assim como os contos de fadas, enfatizam a necessidade de conformidade para evitar os tormentos do inferno. Eggers habilmente coloca na boca de seus personagens questões fundamentais da humanidade, inspirando-se no livro de Jó, que oferece alegorias para convencer o homem a seguir o caminho de Deus. Contudo, “A Bruxa” não se propõe a dar lições de moral. Em vez disso, o diretor desafia o espectador a se identificar com personagens que são, como toda a humanidade, falhos, pecadores e imperfeitos.

O filme combina discurso religioso, política e filosofia de uma maneira que torna difícil distinguir as verdadeiras intenções de Eggers. Katherine, interpretada por Kate Dickie, exemplifica uma mãe enlutada que compreende seu papel dentro da família composta pelo marido William, vivido por Ralph Ineson, e os filhos Jonas, Mercy, Caleb, Samuel e Thomasin, sendo esta última interpretada por Anya Taylor-Joy. A família, após ser expulsa de uma comunidade religiosa devido à sua incapacidade de seguir os rígidos preceitos, se estabelece nas proximidades de uma floresta, onde, isolados, começam a enfrentar conflitos internos que levam ao caos.

A personagem de Thomasin emerge como a figura central da trama. Taylor-Joy, com sua aparência angelical, encarna o paradoxo do pecado e da pureza, à medida que sua transição de menina para mulher provoca tensões dentro da família. Seus pais, que dependem cada vez mais de sua força de trabalho, lutam com o desejo de arranjar-lhe um casamento, o que se torna impossível devido ao isolamento da família. Esse ambiente claustrofóbico e disfuncional oferece a Eggers a oportunidade de abordar temas delicados como violência doméstica e abuso sexual, sugerindo que a beleza e a juventude de Thomasin provocam ciúmes e desejos perigosos.

O elemento sobrenatural ganha força quando o bebê Samuel desaparece, após um incidente envolvendo Thomasin. Fica evidente que a família está sendo atormentada por uma presença maligna, provavelmente ligada à floresta. A bruxa, que habita o bosque há muito tempo, vê a família como intrusa. Antes ocupados com as tarefas diárias, agora os membros da família parecem estar sob a influência de um mal que os enfraquece. O bode preto, Black Philip, é gradualmente revelado como uma encarnação do próprio diabo, uma representação comum na cultura popular.

“A Bruxa” vai além de uma simples narrativa sobre uma jovem tentando sobreviver em um mundo dominado pela ignorância e misoginia. O diálogo entre Thomasin e Black Phillip, possuído pelo espírito da bruxa, revela a perda de identidade e propósito do ser humano, especialmente quando se desvia dos valores essenciais. O filme é tanto uma tragédia sobre a autodestruição familiar quanto uma reflexão sobre a opressão das mulheres, que, em contextos sociais patriarcais e autoritários, são frequentemente subjugadas. O retrato sombrio, mas belamente composto, da condição feminina, remete às pinturas de Johannes Vermeer, e é uma lembrança dolorosa de que a luta por igualdade e dignidade ainda está longe de ser vencida.

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Filme: A Bruxa
Direção: Robert Eggers
Ano: 2015
Gênero: Terror/Fantasia
Nota: 9/10