Bizarro e assustador, thriller de Sam Levinson é um dos filmes mais polêmicos dos últimos 6 anos, na Netflix Divulgação / Neon

Bizarro e assustador, thriller de Sam Levinson é um dos filmes mais polêmicos dos últimos 6 anos, na Netflix

Sam Levinson desafia as normas sociais em “País da Violência”, apresentando uma narrativa intensa e perturbadora, onde a expressão feminina só é permitida dentro dos limites impostos pela sociedade patriarcal. A introdução grandiosa prepara o público para uma distopia sombria, onde a misoginia, o racismo, a supremacia branca, a homofobia e outras formas de opressão se desenrolam em uma mistura de horror e crítica social. O diretor e roteirista constrói seu relato de maneira astuta, avançando gradualmente até atingir os alvos de sua crítica.

A protagonista, Lily, interpretada de forma impecável por Odessa Young, é uma jovem artista cujo talento e vontade de se expressar livremente a colocam na mira de uma facção ultranacionalista que emerge na pequena cidade de Salém. Este local, já conhecido por sua história de intolerância, agora serve como palco para o florescimento de ideologias extremistas, refletindo as tensões que assombram a sociedade contemporânea. Lily, como uma anti-heroína, enfrenta as profundezas de um mal que se esconde sob o disfarce de moralidade, sendo ajudada por um aliado que simboliza a covardia e o extremismo.

Ao longo de seus dezoito anos, Lily atravessa as ruas de Salém vestindo microshorts, sendo objetificada e reduzida a um mero pedaço de carne, uma visão que reflete a mercantilização do corpo feminino. No entanto, a atriz Young confere à personagem uma camada de doçura e vulnerabilidade que a torna mais complexa. Lily deseja apenas criar suas obras de arte, que criticam a hipocrisia de sua comunidade, e esse foco mantém Levinson no curso de sua narrativa. Em uma das cenas, quando é flagrada desenhando mulheres nuas em poses provocativas, ela é confrontada pelo diretor da escola, interpretado por Colman Domingo, que a adverte para redirecionar seu talento para algo mais apropriado, embora reconheça sua habilidade artística.

À medida que o filme avança, Levinson nos leva ao segundo ato, onde a comunicação secreta de Lily com um homem mais velho, chamado Daddy, através de mensagens lascivas e selfies provocantes, culmina em uma explosão narrativa. Um hacker expõe os segredos mais sombrios da cidade, começando pelo prefeito conservador, revelando sua vida dupla como um homem que se veste de lingerie e se envolve com outros homens. A revelação afeta drasticamente a vida de Lily, que é rejeitada pelos pais e se torna alvo de uma multidão enfurecida.

Apesar do tema árduo, Levinson demonstra um apurado senso estético e um conhecimento profundo da cultura pop. Sua habilidade em fazer referências, como ao romance “O Conto da Aia” de Margaret Atwood e ao filme “Sob o Domínio do Medo” de Sam Peckinpah, enriquece a narrativa, conferindo-lhe uma camada adicional de significado. “País da Violência” é, em essência, um manifesto contra a ignorância, o cinismo e a falsa moralidade que permeiam certas facções da sociedade. Levinson expõe essas “excrescências da democracia”, como ele as chama, sem rodeios, revelando o desejo por uma reparação retrógrada que ameaça as liberdades fundamentais.


Filme: País da Violência
Direção: Sam Levinson
Ano: 2018
Gêneros: Drama/Suspense
Nota: 8/10