Baseado em história real desesperadora da Segunda Guerra, drama europeu emocionante está na Netflix Divulgação / Netflix

Baseado em história real desesperadora da Segunda Guerra, drama europeu emocionante está na Netflix

O filme “O Fotógrafo de Mauthausen” se sobressai entre tantas produções que capturam o poder da resistência em face das atrocidades humanas. Ele traz à tona a figura de indivíduos que, ao desafiar o status quo, se tornam essenciais para a sobrevivência da humanidade diante de sua própria crueldade. Esses mártires, que nada mais são do que pessoas comuns, encontram dentro de si a força para transcender o medo e agir com justiça.

Eles ultrapassam as expectativas que os outros depositam neles, despertando um revolucionário interior, mesmo quando tudo ao seu redor é consumido pelo ódio, pânico e insanidade. Suas ações, por mais arriscadas que sejam, mantêm viva a esperança de uma nova vida para si e para os que os cercam. E é justamente nos momentos mais sombrios da história que esses heróis emergem, revelando-se indispensáveis.

Ao longo da Segunda Guerra Mundial, Mauthausen tornou-se um dos mais de quarenta mil campos de concentração erguidos pelos nazistas, recebendo sete mil prisioneiros espanhóis, derrotados tanto na Guerra Civil Espanhola quanto na batalha contra Hitler na França. Esses homens, desprovidos de uma pátria após a revogação de sua nacionalidade pelo ministro do ditador Francisco Franco, eram vistos como prisioneiros políticos, despojados de qualquer lugar para chamar de lar.

Em Mauthausen, eles se depararam com a crueldade dos kapos, que exerciam sua autoridade com brutalidade. O roteiro habilmente evidencia a presença dos chamados “triângulos verdes”, ou criminosos comuns, em meio a esses prisioneiros. Francesc Boix, um ex-soldado espanhol que lutou na Guerra Civil, encontra-se em uma posição improvável: ele se torna o protegido do obersturmbannführer Paul Ricken, interpretado por Richard van Weyden. Em meio à perversidade que define o regime nazista, Boix é encarregado de registrar, através de sua lente, uma fração da monstruosidade que se desenrolava no campo.

Conforme a narrativa avança, o filme explora camadas mais profundas da personalidade de Boix, revelando traços que antes eram apenas esboços abstratos. Mario Casas, que interpreta Boix, consegue transmitir a complexidade do personagem, um líder nato em meio à desolação de Mauthausen. Casas equilibra a nobreza e a humanidade de Boix, conferindo ao personagem uma profundidade que oscila entre o sagrado e o profano, sem jamais perder o lirismo.

Em uma das cenas mais emblemáticas, Boix, que recebe a chance de visitar o bordel mantido pelos nazistas no campo, não consegue consumar o ato com Dolores, uma prisioneira confinada ali para esse propósito. Ele é atormentado por visões de corpos em chamas, um reflexo dos horrores que testemunhara. A breve aparição de Macarena Gómez como Dolores intensifica ainda mais a atmosfera sombria do filme, que permanece envolto em um mistério quase intransponível, apesar do testemunho que Boix deu no Tribunal de Nuremberg, onde foi o único espanhol convidado a depor contra os seguidores de Hitler.

Boix sobreviveu ao pesadelo de Mauthausen, mas as cicatrizes do campo o acompanharam até o fim de sua curta vida. Enfraquecido pelas doenças contraídas durante sua prisão, Boix faleceu em 7 de julho de 1951, antes de completar 31 anos. Ele foi enterrado nos subúrbios de Paris, longe de sua família, em uma cerimônia discreta. No entanto, seu legado perdura; suas fotografias revelaram ao mundo a dimensão do que a humanidade é capaz de fazer quando se desvia do respeito pela dignidade humana. Essas imagens são um lembrete pungente de que a verdadeira evolução da humanidade só é possível quando o homem respeita sua própria natureza, diversa e única.


Filme: O Fotógrafo de Mauthausen
Direção: Mar Targarona
Ano: 2018
Gêneros: Drama/Thriller
Nota: 9/10