Filme com Bradley Cooper e Robert De Niro que faturou 89 prêmios, incluindo o Oscar, é um dos mais lindos na Netflix Divulgação / The Weinstein Company

Filme com Bradley Cooper e Robert De Niro que faturou 89 prêmios, incluindo o Oscar, é um dos mais lindos na Netflix

Atingir o equilíbrio entre entretenimento e reflexão ao contar uma história que se propõe a transmitir uma mensagem de otimismo, mesmo ao lidar com temas complexos, é um desafio significativo. “O Lado Bom da Vida” supera esse desafio, evitando cair na tentação de encantar o público de maneira superficial. Em vez disso, o filme se apoia em protagonistas carismáticos, cujas carreiras em ascensão em Hollywood elevam o valor artístico da obra.

Este romance, completamente fora dos padrões convencionais, destaca-se em meio a uma enxurrada de produções românticas de qualidade duvidosa que frequentemente tentam se passar por profundas. Sob a direção de David O. Russell, que entrega um de seus trabalhos mais brilhantes, o filme reúne dois jovens astros do cinema atual e os coloca em papéis de personagens desajustados, enfrentando sérios problemas psiquiátricos.

Esses personagens, inicialmente pouco atraentes e até mesmo repulsivos, são gradualmente desnudados de suas camadas de doença mental, revelando a beleza oculta de suas personalidades e o que realmente desejam expressar.

Lançado no Brasil em 2013, o filme apresenta um Bradley Cooper bastante diferente do que o público estava acostumado a ver desde suas primeiras aparições na televisão, como na série “Sex and the City”, em 1999. Com uma carreira construída de forma meticulosa, Cooper talvez tenha encontrado em “O Lado Bom da Vida” o papel mais significativo de sua trajetória até então. Seu personagem, Patrizio Solitano Jr., conhecido como Pat, é uma espécie de explorador de almas, embora incapaz de libertar a sua própria.

Ao abordar o colapso mental de um homem que, após flagrar sua esposa no chuveiro com outro, nunca mais retorna ao que era antes, Russell explora terrenos perigosos. O diretor apenas sugere o ataque de Pat ao amante da esposa, uma demonstração inconsciente de virilidade e honra que lhe custa caro.

O protagonista é internado em um hospital psiquiátrico por oito meses, perde seu emprego como professor, o mesmo colégio onde o amante de sua esposa, Nikki (Brea Bee), também trabalhava, e, ironicamente, continua a amá-la, se é que realmente tenta deixar de fazê-lo. Obrigado a cumprir uma medida restritiva que o impede de se aproximar a menos de 150 metros de sua ex-mulher, Pat é forçado a morar com seus pais, Dolores (Jacki Weaver) e Pat Sr. (Robert De Niro).

Jacki Weaver, em grande forma, brilha intensamente em seu papel, muitas vezes ofuscando De Niro, cuja atuação, embora sólida, não alcança as expectativas. A trama ganha novo fôlego com a entrada em cena de Jennifer Lawrence, que interpreta Tiffany, uma jovem viúva que perdeu o marido policial de forma trágica e violenta.

Em resposta ao trauma, Tiffany embarca em uma série de relacionamentos promíscuos com colegas de trabalho, o que acaba lhe custando o emprego. Quando Pat e Tiffany se conhecem em um jantar oferecido pela irmã de Tiffany, Veronica (Julia Stiles), e seu marido, Ronnie (John Ortiz), a química entre eles é imediata, alimentada por suas personalidades igualmente excêntricas.

O verdadeiro cerne do filme reside na transição dos protagonistas de vilões para mocinhos, e vice-versa. Ao desafiar as convenções da sociedade em que vivem, Pat e Tiffany tornam-se personagens complexos e imprevisíveis, impossíveis de categorizar.

A ironia meticulosa de Russell ao retratar Pat como alguém que, ao agir de acordo com o que se espera de uma pessoa normal, acaba sendo punido, enquanto Tiffany é ostracizada por sua promiscuidade, confere ao filme uma profundidade única. Pat, ao defender sua honra com violência, é confinado por oito meses em uma instituição psiquiátrica, enquanto Tiffany, ao se entregar a comportamentos autodestrutivos, é marginalizada e relegada a uma vida solitária em uma pequena casa nos fundos da propriedade de seus pais.

À medida que Pat e Tiffany se aproximam, eles descobrem semelhanças e diferenças fundamentais em suas personalidades. Desde o início, Pat deixa claro que, apesar de tudo o que aconteceu, ainda ama Nikki. Tiffany, por sua vez, finge aceitar esse fato, mas intui, com precisão, que pode conquistar o coração de Pat.

Para tentar se reconectar com Nikki, Pat decide escrever uma carta pedindo desculpas e sugerindo que retomem o relacionamento de onde pararam. Tiffany, ao perceber uma oportunidade, oferece-se para entregar a carta, desde que Pat concorde em ser seu parceiro em um concurso de dança.

O que se segue é uma sequência envolvente em que a química entre Cooper e Lawrence, já alvo de muita especulação, resulta em algumas das cenas mais memoráveis do filme. Desde os ensaios até a apresentação final no concurso de dança, que se torna o clímax do filme, ambos os atores entregam performances sublimes. Cooper, em particular, destaca-se ao optar por uma atuação minimalista, permitindo que Tiffany brilhe nos momentos certos.

Sem o mesmo apelo de estrela de Lawrence, Cooper precisou trabalhar duro para manter seu personagem vibrante e interessante. Sua escolha por uma interpretação contida, utilizando suas qualidades físicas, seu olhar expressivo e sua voz cativante, confere a Pat uma profundidade emocional que evita qualquer traço de exagero.

Sua atuação é tão convincente que, embora não tenha recebido uma indicação ao Oscar como Lawrence, que venceu o prêmio de Melhor Atriz por este papel em 2013, Cooper demonstrou claramente seu talento como ator.

“O Lado Bom da Vida” não se limita a ser um duelo entre dois grandes atores, nem uma batalha de egos. Ao contrário, o filme é uma obra coesa em que todos os elementos trabalham em harmonia, transmitindo de forma clara a ideia de reconstrução e reorganização da vida e dos afetos.

Em uma narrativa que, em muitos momentos, parece improvável, o filme consegue entregar uma história poderosa e envolvente, que ressoa com o público muito depois dos créditos finais.


Filme: O Lado Bom da Vida
Direção: David O. Russell
Ano: 2012
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 10/10