O filme da Netflix com Chris Hemsworth que ficou 59 dias entre os mais assistidos do mundo Jasin Boland / Netflix

O filme da Netflix com Chris Hemsworth que ficou 59 dias entre os mais assistidos do mundo

O filme “Resgate 2”, dirigido por Sam Hargrave, não se diferencia essencialmente das narrativas clássicas de super-heróis. A produção se apoia em personagens com funções bem definidas e em um drama familiar aparentemente sem solução, onde o protagonista, detentor de habilidades extraordinárias, torna-se uma figura onipresente, quase exaustiva, com a ilusão de poder resolver todos os problemas. O roteiro de Joe Russo, que codirigiu “Vingadores: Ultimato” (2019) ao lado do irmão Anthony, parece tentar reavaliar o papel desses heróis salvadores em histórias cinematográficas.

A jornada do protagonista, interpretado por um Chris Hemsworth desgastado, que inicialmente luta apenas para sobreviver, é marcada por breves momentos de vitória que ele valoriza, sabendo que sua existência depende dessas pequenas conquistas. Neste contexto, o personagem Tyler Rake, encarnado por Hemsworth, busca reafirmar-se, algo que ele já havia conseguido de forma limitada no primeiro filme da franquia, lançado em 2020. À medida que ele se levanta e assume sua nova e mais desafiadora missão, uma dúvida persiste no espectador: será que ele não está superestimando suas próprias capacidades?

À medida que os créditos iniciais se desenrolam, o rosto de Nik Khan, vivido por Golshifteh Farahani, aparece na tela, iluminado pela luz envelhecida da fotografia de Greg Baldi. Russo remete ao primeiro filme através de flashbacks esparsos, nos quais Hargrave intensifica a instabilidade moral do protagonista, reacendendo dúvidas sobre sua natureza e revelando uma escuridão que o torna menos previsível e distante do típico herói infalível.

Rake se distingue de outros heróis cinematográficos por seu instinto paternal, uma característica que Russo utiliza em vários momentos ao longo das duas horas de filme, com destaque para uma cena chave entre o segundo e o terceiro atos, algo que já havia sido explorado repetidamente no primeiro “Resgate”. Desta vez, porém, é o anti-herói de Hemsworth que precisa ser resgatado, e apesar dos indícios de que sua recuperação será difícil, o público sabe que ele eventualmente sairá do coma. Hargrave conduz o filme por diversas locações ao redor do mundo, começando por Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, com o objetivo de consolidar a imagem de Rake como um super-homem incansável em sua busca por superação.

O ritmo do enredo é semelhante ao trem desgovernado em que Rake e Nik embarcam no clímax de “Resgate 2”, quando os capangas de Ovi Mahajan, interpretado por Pankaj Tripathi, descobrem que o mercenário voltou à ativa. O diretor relembra o público da mal-sucedida missão de resgate do filho de Mahajan, Ovi Jr., interpretado por Rudhraksh Jaiswal, por meio de diálogos entre Hemsworth e Farahani. Agora, unidos em meio à adversidade, Rake e a ex-gerente do mafioso precisam enfrentar a colossal fraternidade do crime asiático, não por riquezas, mas pela própria sobrevivência.

Hargrave retoma os clichês já explorados em 2020 para evidenciar a misantropia inerente dos protagonistas, ambientando-os em prisões como as de Schwarzau e Graz-Karlau, nas proximidades de Linz, na Áustria. Há uma promessa de um final mais feliz, como sugerido pelo vilão de Idris Elba, mas isso só será confirmado com a chegada da terceira parte dessa saga intensa e perigosa.


Filme: Resgate 2
Direção: Sam Hargrave
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 9/10