Filme que foi comprado por 20 milhões de dólares pela Netflix depois de aclamação em Sundance Sergej Radovic / Netflix

Filme que foi comprado por 20 milhões de dólares pela Netflix depois de aclamação em Sundance

O caminho trilhado pelas mulheres para alcançarem posições de igualdade, tanto na vida pessoal quanto profissional, tem sido longo e árduo. A persistente e arraigada visão cultural que associa o papel feminino ao ambiente doméstico e ao cuidado dos filhos, ainda fortemente presente em muitas sociedades, atua como uma barreira invisível, mas poderosa, que limita as opções de carreira e autonomia das mulheres.

Essa carga, que muitas vezes se revela opressiva, pode anular qualquer traço de idealização romântica e, inevitavelmente, impactar as oportunidades de reintegração ao mercado de trabalho. No entanto, se essa escolha é feita de forma voluntária e consciente, não há o que questionar – cada um encontra sua felicidade de formas distintas.

Mas e quando essa decisão não é livre? Quando a mulher, em pleno voo de ascensão profissional, se vê forçada a aterrissar, pressionada por quem deveria ser seu maior apoio? Essa é a situação vivida por Emily, protagonista de “Jogo Justo” (2023).

No filme dirigido por Chloe Domont, Emily enfrenta uma realidade sombria e complexa, agravada pelo contexto de seu relacionamento com Luke. Os dois violam uma regra pré-estabelecida em seu ambiente de trabalho, acreditando estar imunes às consequências. Contudo, rapidamente percebem que essa violação irá afetá-los de maneira implacável.

Após uma estreia impactante no Festival Internacional de Cinema de Toronto, em setembro de 2023, e uma exibição em Sundance, que foca em cineastas emergentes, o longa-metragem de Domont foi bem recebido, apesar de sua simplicidade.

A relação entre Emily e Luke, vividos pelos atores Phoebe Dynevor e Alden Ehrenreich, é central para a trama. Embora desde o início fique claro que o romance não terá um final feliz, o filme prende a atenção ao explorar o momento e a intensidade da ruptura, mantendo o público em suspense.

A direção de Domont cria cenas que reforçam o contraste entre a vida profissional e pessoal de Emily. Logo no início, ela é mostrada sozinha, fumando em um terraço, enquanto uma festa ocorre no salão abaixo. Essa solidão é momentaneamente interrompida quando Luke a puxa de volta para a festa, mas essa alegria é breve. Pouco depois, os dois se encontram no banheiro, onde, em meio a uma cena de intensa intimidade, Luke a pede em casamento.

Conforme a trama avança, o foco se desloca para a dinâmica de poder entre o casal, especialmente após Emily receber uma promoção inesperada. Essa mudança de cenário marca uma desaceleração na narrativa, mas a intensidade emocional continua a crescer. O objetivo de Domont é testar os limites do espectador, provocando-o com cenas que expõem a brutalidade das relações humanas, exacerbada pela presença do sexo como fator de tensão.

Embora o filme perca força ao tentar abordar a intrincada teia das intrigas corporativas, “Jogo Justo” se destaca como uma sátira mordaz das disfunções emocionais que afetam casais de todas as classes sociais.

A química entre Dynevor e Ehrenreich, que desempenham seus papéis com uma mistura de sensualidade e agressividade, torna a narrativa envolvente. O desfecho, marcado por uma conversa tensa e carregada de violência, deixa claro que, por trás de todas as artimanhas e jogadas de poder, existe um questionamento profundo sobre a natureza do amor e das relações modernas.


Filme: Jogo Justo
Direção: Chloe Domont
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Mistério/Suspense/Erótico
Nota: 8/10