Prepare-se para o filme mais bonito da Netflix, que vai mexer com suas emoções e tocar sua alma Divulgação / Cohen Media Group

Prepare-se para o filme mais bonito da Netflix, que vai mexer com suas emoções e tocar sua alma

A cinematografia de grandes mestres como Ingmar Bergman, com “Fanny e Alexander” (1982), e Federico Fellini, com “Amarcord” (1973), tem se debruçado sobre a complexidade das memórias e da juventude. Filmes contemporâneos como “Me Chame Pelo Seu Nome” (2017), de Luca Guadagnino, e “A Mão de Deus” (2021), de Paolo Sorrentino, também exploram temas semelhantes. Na mesma linha, Fernando Trueba oferece com “A Ausência que Seremos” (2020) uma obra que é tanto envolvente quanto comovente, e, acima de tudo, autêntica.

Em “A Ausência que Seremos”, Trueba vai além da simples adaptação de memórias pessoais de perda e luto. O diretor transforma a narrativa em um documento histórico vívido, mantendo a essência da história, especialmente a partir da perspectiva infantil do protagonista. O filme é baseado no livro homônimo de Héctor Joaquín Abad Faciolince, jornalista e escritor colombiano de Medellín. Abad Faciolince é filho de Héctor Abad Gómez (1921-1987), um proeminente defensor dos direitos humanos na Colômbia durante a ditadura de Gustavo Rojas Pinilla (1900-1975). O filme narra, através dos olhos de um menino, a relação entre pai e filho e o trágico assassinato de Abad Gómez por milicianos ligados ao tráfico de drogas, um problema persistente na Colômbia que só foi temporariamente amenizado durante o governo de Álvaro Uribe (2002-2010).

Décadas após a morte de Abad Gómez, seu trabalho como sanitarista ainda não é amplamente lembrado na Colômbia. Abad Gómez foi um líder na pesquisa sobre saneamento básico e seu impacto na saúde, especialmente nas áreas mais pobres. A recente pandemia de covid-19, que continua a assolar o mundo, trouxe à tona a importância de figuras como Abad Gómez, relembrando seu papel crucial na saúde pública.

No filme, Javier Cámara interpreta Abad Gómez, e Nicolás Reyes faz o papel do jovem Héctor, conhecido como Quinquín. O filme alterna entre a infância de Quinquín nos anos 1970 e sua juventude a partir de 1983, quando é interpretado por Juan Pablo Urrego. A história retrata a dor da perda e a luta contínua pela justiça, ilustrando a complexidade política e social da Colômbia da época. Abad Gómez, um humanista, foi alvo tanto da direita conservadora quanto da esquerda revolucionária. Ele enfrentou críticas de todos os lados, sendo visto por alguns como um aliado do imperialismo americano devido ao seu tempo na Universidade de Minnesota, e por outros como um elitista.

No filme, Abad Gómez reflete sobre a falta de valor da vida na Colômbia, um país dilacerado pelo narcotráfico e regimes totalitários. Apesar de sua visão sombria sobre a situação, a trajetória de Héctor Joaquín Abad Faciolince como escritor respeitado da América Latina destaca-se. Seus esforços para perpetuar a memória de seu pai continuam, mesmo que os responsáveis pelo assassinato de Abad Gómez nunca tenham sido punidos.


Filme: A Ausência que Seremos
Direção: Fernando Trueba
Ano: 2020
Gênero: Drama
Nota: 9/10