O sentimento de fracasso é, sem sombra de dúvida, um dos venenos mais mortíferos para o vaidoso espírito do homem. Contudo, ao cabo de tantas desilusões, existem aqueles que simplesmente deixam de se importar, como se não fosse possível qualquer margem para avançar, como se a vida congelasse, não por um momento de desdita mais severa, mas para sempre, até que, como sempre sói acontecer, o destino arme uma de suas grandes (e maravilhosas) falsetas. Teddy Walker, o personagem de Kevin Hart em “Operação Supletivo — Agora Vai!”, precisa do diploma de conclusão do ensino médio a fim de conseguir um emprego como vendedor na empresa em que um velho amigo é gerente.
O problema é que, além de ter que se livrar de gente que não admite que ele vá mais longe, Teddy vai se deparar com obstáculos que ele mesmo cria, numa espécie de autossabotagem inconsciente, e então fica impossível saber se algum dia poderá alcançar o sucesso com que sonha tanto. Malcolm D. Lee tem experiência em destrinchar assuntos de incômoda seriedade, socorrendo-se da polivalência de Hart, mestre de cerimônias de um espetáculo feito de boas atuações em cenas agridoces.
Cada mulher e cada homem é um universo muito particular, centrado em normas próprias, que funcionam com algum grau de acerto — ou não se estenderiam ao longo dos anos — e ideias específicas sobre o que é o mundo, um lugar hostil mesmo que não queira, com suas tantas revoluções sempre insistindo em botar abaixo tudo o que já existe há muito, muito tempo, sem saber muito bem como substituir toda a ruína de um sistema inquestionavelmente repleto de enganos, mas louvado por saber reconhecer quem vence dos eternos perdedores.
Necessidades as mais íntimas, algumas sublimadas, uma vez que não se encontra condições de serem saciadas; expectativas doidas acerca da vida para além do sonho, momento em que percebemos que nossa concepção do existir está flagrantementedivorciada da realidade; reflexões quanto à natureza infeliz do homo sapiens sapiens,sem dúvida a espécie mais desditosa daCriação, todos os assuntos que não se furtam a andar nas cabeças e nas bocas da gente humilde e dos endinheirados, dobram-se à inescapável evidência da dificuldade de se manter vivo, não sob o ponto de vista da sobrevivência, mandamento que observamos instintivamente, mas no que concerne às atitudes que tomamos (e, mais ainda, as que deixamos de tomar) a fim de legitimar esse sagrado direito.
O roteiro de Hart e outros cinco colaboradores bate na tecla de uma falsa malandragem de Teddy, o que deixa o filme com uma cara de seriado dos anos 1990 que, por incrível que pareça, acerta em cheio. Carrie, a professora durona de Tiffany Haddish, cai como uma luva para a própria composição do protagonista, e se a história se resumisse apenas ao relacionamento dos dois, não haveria necessidade de mais nada. “Operação Supletivo — Agora Vai!” peca pelo excesso, ainda que isso seja fácil de se relevar.
Filme: Operação Supletivo — Agora Vai!
Direção: Malcolm D. Lee
Ano: 2018
Gêneros: Comédia/Drama
Nota: 8/10