O filme que lotou cinemas, faturou 2 bilhões e consagrou Milla Jovovich chegou à Netflix Divulgação / Columbia Pictures

O filme que lotou cinemas, faturou 2 bilhões e consagrou Milla Jovovich chegou à Netflix

A Umbrella Corporation venceu e agora escreve a história. Alice, a filha do doutor Marcus James, o fundador do grupo, nasceu com progéria, uma malformação genética que faz com que envelheça quatro vezes mais que o normal. Daí veio sua ideia de desenvolver o T-vírus, um organismo capaz de fomentar a regeneração acelerada das células e reverter o quadro de Alice. O que poderia ser a salvação de sua filha e, quem sabe, eliminar a doença e a morte da face da Terra, tornou-se um gatilho para manifestações teratológicas que a ciência ainda não havia podido desvendar. Não demorou para que quase todos os sete bilhões de habitantes do planeta padecessem de males para os quais nunca se descobriria a cura, e o resto já se sabe: o mundo seria dominado por zumbis, famintos e perversos, depois do nascimento do primeiro morto-vivo, Alice James.

Catorze anos e seis filmes depois, “ResidentEvil 6: O Último Capítulo” encerra a franquia — ao menos sua gênese mais pura. Falando sobre a onipresente ganância dos homens, da insânia de se tentar combater a morte, do conhecimento posto a serviço de motivações duvidosas e escusas, Paul W.S. Anderson proporciona um fechamento honroso para a série e deixa o espectador satisfeito, isto é, não há necessidade alguma de se começar tudo de novo, mas essa é uma outra discussão. O diretor-roteirista elabora um prólogo estimulante, com cenas que explicam como a trama chegou até aqui, e a partir desse momento o filme avança para os novos eventos que justificam o desdobramento final da saga.

Os 4.472 seres humanos que conseguiram opor resistência ao T-vírus e aos monstros que se espalharam para muito além de Raccoon City nutrem sua derradeiro alento na volta da heroína, que parece não dar conta de tamanha missão. Anderson lança mão de belas sequências em computação gráfica irretocável mostrando as ruínas de Washington depois de uma ofensiva patrocinada por Albert Wesker, o novo chefão da Umbrella, num esforço desesperado de poupar o que resta da humanidade da ira da Rainha Vermelha, a cabeça do portentoso sistema de inteligência artificial criada por Alexander Isaacs, o cérebro por trás dos novos planos da empresa. 

Sem dúvida, a unidade do elenco é o que mais salta aos olhos, e se é esse o ponto, Milla Jovovich se sai melhor que a encomenda na pele de Alice, uma mulher entre dois tempos, atormentada por se saber impotente como os demais e assim mesmo ter de investir-se de uma natureza sobre-humana e quiçá divinal. O enredo passando de um conto pós-apocalíptico para uma sátira absurda sobre o que pode vir a ser a vida num ambiente inóspito, argumento que Anderson sustenta, como não poderia ser diferente, com imagens perturbadoras, remetendo a Buñuel. A escalação de Ever Anderson, a filha do diretor e sua estrela no transcurso dessa longa jornada, só nos leva a uma estranha conclusão: há uma gota de romance em todo cataclismo. 


Filme: Resident Evil 6: O Capítulo Final
Direção: Paul W.S. Anderson
Ano: 2016
Gêneros: Ficção científica/Terror/Ação
Nota: 8/10